Palavras
Desligou o computador e foi para a rua à procura de palavras para um novo conto, já que. há algum tempo, não conseguia escrever uma linha. O que teria causado esse divórcio entre ele e elas, não encontrava resposta, pois sempre as tratou com muito cuidado e carinho.
Buscava a palavra certa para expressar o que queria dizer. Colocava uma e, se não correspondesse, a retirava e partia à cata de outra até encontrar aquela que o satisfazia. Agora, porém, tinha o assunto, mas não o texto, o que o deixava ansioso. Onde encontrá-las? Lembrou Drummond, mostrando que não estava sozinho: “Lutar com palavras/É a luta mais vã./Entanto lutamos/Mal rompe a manhã”
A cada passo, ia pensando nos espaços onde elas estariam escondidas, brincando com ele, com a sua dificuldade de, no mínimo, começar uma narrativa. Não acreditava que estariam nos textos acadêmicos, que nada tinham a ver com o seu estilo. Queria a língua viva, livre das rígidas regras gramaticais. o que o remeteu à cumplicidade de Bandeira: “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros/ Vinha da boca do povo na língua errada do povo/Língua certa do povo”.
Sua busca, então, seria onde ele estava. Não na Academia, mas, na rua, onde as palavras formam frases com sabor e cheiro, se expondo sem gramatiquice, com seus belos desvios da prisão da norma culta. Pronto! Já tinha a orientação para o seu texto.
Quis dar uma pausa na caminhada e aliviar um pouco o desconforto. Parou no botequim da esquina, espaço onde pessoas de todas as classes, de todos os saberes, de todas as linguagens se misturam, Pediu um chope e disse bem alto, causando espanto nos outros frequentadores: “Palavras queridas, estou à espera!” E elas vieram, simples, melodiosas, na fala do garçom, no sussurro dos casais, nos versos do sambista, no pedido do homem solitário, na conversa dos jovens, nas lembranças do grupo de idosos...
Foi para casa, descansado, seguido por milhares de palavras, como em um bloco de sujo do Carnaval, desfilando sua beleza na passarela de uma página em branco.
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