Para Ângelo de Paula, está na hora do povo invisibilizado contar a sua História
Ângelo Márcio de Paula, autor do livro Escravidão Indígena - Nos sertões da Paraíba Nova é indígena do Povo Puri. Nasceu em Resende/RJ, no dia 03 de abril de 1976. Ator/palhaço, historiador, professor, ilustrador, escritor e produtor cultural. Iniciou sua trajetória no teatro aos 8 anos em Itatiaia/RJ, fez parte do Grupo Teatral Fantasia, Grupo de Teatro Herdeiros de Téspis e da Cia da Ação! Em 2001, fundou com os amigos Alexandre Pereira, Hércules Alves e Luís Lima Japão a Cia. de Teatro e Improviso Upalalá.
Ao todo foram 28 trabalhos no teatro como ator ou diretor. Ingressou no serviço público municipal em 1998 e, desde o ano 2000, trabalha na Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda – órgão gestor das políticas púbicas de cultura em Resende, onde ocupou diversas funções e esteve na presidência da casa no período de 2013-2016. Atualmente coordena o Arquivo Histórico Municipal. Como produtor cultural, idealizou diversos projetos que associam cultura com desenvolvimento social em Resende, como o “Bloquinho”, em parceria com o Bloco Unidos do Lavapés, que, desde 2017, leva a folia para idosos e crianças na Praça da Matriz; Palhaçaria e Cuidado, projeto de risoterapia, desenvolvido em parceria com a Maternidade APMIR (Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Resende) e o projeto “Rota da Leitura”, uma bicicloteca que empresta livros para crianças do bairro Jardim D’Oeste.
Na literatura, escreveu e ilustrou o livro O Pequeno Puri (2018) e o HQ A Fabulosa História de Nossa Cidade (2020), e foi coautor do e-book 220 histórias da cultura de Resende (2021). É licenciado em História pela Unirio (2015), especialista em Museografia e Patrimônio Cultural, pela Rede Clarentiano/SP (2018), e mestre em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ (2023). Seu livro Escravidão Indígena - Nos sertões da Paraíba Nova foi o trabalho de conclusão do curso de mestrado.
CRIATIVOS! - O que mais mexe com você: ser ator/palhaço, produtor cultural, ilustrador, escritor ou professor?
ÂNGELO DE PAULA - Difícil responder essa pergunta. Não consigo responder qual mexe mais comigo. Porque essas atividades são fundamentais para minha formação em diferentes fases da minha vida. Se observar com atenção verá que elas têm, em seus fazeres, pontos de contato, e de forma geral todas querem dialogar com as pessoas, com um público.
CRIATIVOS! - E escrever para crianças é mais fácil do que para adultos?
ÂNGELO DE PAULA - É bem diferente. Crianças são mais sinceras. Quando elas gostam de sua obra, demonstram de forma clara, são calorosas. Tenho mais experiência com o retorno desse público. O Escravidão Indígena é praticamente minha estreia com o público adulto. Ainda estou recebendo as primeiras devolutivas. Estou feliz até aqui.
CRIATIVOS! - A sua descendência de povos originários da região sul fluminense, em algum momento causou algum incômodo, embaraço ou foi motivo de orgulho desde cedo?
ÂNGELO DE PAULA - Somos uma família multiétnica, como a maioria das famílias brasileiras. Meu pai era um caboclo e minha mãe uma mulher de origem humilde, branca, ruiva e de olhos verdes. Sempre soube de minha origem Indígena, apesar de não conhecer de qual Povo estava ligada minha ancestralidade. Não me recordo de um constrangimento. Tenho um irmão mais velho, que tem o fenótipo do "índio padrão" do Brasil, e seu apelido numa rede de fast food que ele trabalhava era Paulo Paiakan. Quando entrei lá, logo fui apelidado de Paiakanzinho. Mas era uma época que essas questões raciais não estavam colocadas como estão hoje. Quanto ao orgulho, sempre gostei de afirmar que minha avó paterna era indígena. Em 2001, ligando a minha trajetória familiar com a história Indígena da região, compreendi minha ancestralidade e desde então me afirmo como Puri, mesmo antes dos movimentos de retomada tomarem força. Hoje passo por constrangimentos relacionados as dúvidas que são postas em relação a minha ancestralidade e ao direito de memória e identidade de meu Povo. Ainda existe a ideia do "índio legítimo". Mas eu adoro ser constrangido dessa forma, uma ótima oportunidade de debater a questão.
CRIATIVOS! - As marcas do Povo Puri são facilmente percebidas e identificáveis na região? Se não, por que?
ÂNGELO DE PAULA - Se o olhar for atento e generoso será fácil identificar as contribuições dos Puri em nossa cultura: a cultura do pinhão, o consumo do Içá, o conhecimento medicinal das ervas, dos eventos climáticos como a enchente das goiabas, a lenda da Pedra Sonora, entre outras. Mas de modo geral, a presença dos Puri e de seus descendentes são apagadas, invisibilizadas e questionadas por aqueles que sempre trabalharam para sua extinção. Os Puri foram declarados extintos pelo Estado Brasileiro e pela historiografia tradicional, ainda no século XIX. Em Resende se decretou a morte do último Puri "legítimo" em 1865. E esse apagamento está totalmente ligado à privação de direitos, especificamente o direito às suas terras. Os Indígenas, desde os primeiros documentos coloniais, têm garantido o direito a terra. Mas os caboclos, os cabras, os matutos e os mestiços não possuem esse direito. Transforma-se então todos em caboclos, cabras e matutos. Inclusive é um debate sempre atual o direito à terra dos Povos Indígenas, vide o Marco Temporal. E é essa mesma força colonial que hoje opera de outras maneiras, e que questiona nossa memória e nossa identidade. Nos negando mais esse direito.
CRIATIVOS! - O que falta para que os povos originários da região sejam reconhecidos e entendidos como parte integrante definitivamente da história local?
ÂNGELO DE PAULA - Primeiro, o Estado Brasileiro, em suas diferentes instâncias, reconhecer a presença dos povos originários de nossa região. O Povo Puri não é reconhecido pela FUNAI, mesmo sua presença nos censos demográficos estarem cada vez mais marcantes. Existe uma luta para esse reconhecimento desde o início dos movimentos de retomada, a partir do início dos anos 2.000. A partir desse reconhecimento, precisamos avançar nas políticas públicas para povos como o Povo Puri, indígenas em processo de retomada cultural no contexto rural e urbano. Não podemos deixar passar a oportunidade inédita de ter um Ministério dos Povos Indígenas para avançar em nossas questões.
CRIATIVOS! - Fale do seu livro e de como ele pode auxiliar na recuperação da verdade e sobre a história do povo Puri.
ÂNGELO DE PAULA - O Escravidão Indígena é na íntegra minha pesquisa de mestrado em História na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. A pesquisa visa dar atenção as relações de poder estabelecidas entre o agente colonial e a população Indígena da região, com foco na escravidão e no trabalho compulsório, que foi praticado à luz da legislação colonial ou à revelia dela. Mas para chegar no ponto central, preciso apresentar para o leitor o processo de colonização que passou na chamada região da Paraíba Nova (território do Vale do Paraíba, entre as serras do Mar e Mantiqueira, que compreende as divisas com Areias até Barra do Pirai), os Povos que habitavam essas terras - aspectos físicos e culturais - que foram impactados com o avanço colonial e também a agência Indígena, tirando-os do lugar passivo que a historiografia sempre o colocou. Proponho um debate sobre práticas como a "agregação" e "compadrio", que nos permite entender o processo de controle, exploração e invisibilização pelo qual nosso Povo foi submetido, e sobre marcadores genéricos - caboclos, cabras e matutos - que nos permitem encontrar os indígenas nos documentos e também nas trajetórias familiares. Reflexões que contribuem para entender os Puri e outros povos, que tiveram destinos semelhantes, no tempo presente. Trago documentos inéditos, gráficos e dados que mostra a presença Puri muito além da Vila da Fumaça, como reforça a narrativa consolidada. Quanto a verdade ser recuperada ou não, é um tanto quanto utópico. Até acredito que um pouco de utopia possa nos levar a avançar em diversas questões. Mas na história não existe a verdade absoluta. Existem perspectivas. E a História Indígena sempre foi contada pela perspectiva dos colonizadores. Chegou a hora da gente contar a nossa própria História. E podemos contar utilizando não só o conhecimento ancestral, saberes tradicionais, as artes, e também com as mesmas ferramentas que esse sistema opressor utilizou para nos invisibilizar: o conhecimento formal, as teorias e métodos científicos. No caso dos Puri, a retomada se inicia com o diálogo entre a universidade e a tradição das comunidades rurais de Minas Gerais com origem Indígena, fortalecido em torno da Aldeia Multiétnica Maracanã e a cada dia, com mais presença nos espaços e debates públicos. Mas é só o começo.
Projetos da Cedro Rosa Aprovados pela ANCINE
A Cedro Rosa está envolvida na produção de diversos filmes e séries aprovados pela Ancine, com incentivos fiscais que permitem aos patrocinadores deduzirem o valor investido do imposto de renda devido. Aqui estão os três projetos principais:
1. Minissérie "História da Música Brasileira na Era das Gravações"
Descrição: Esta minissérie explora a evolução da música brasileira desde a introdução das primeiras gravações até os dias atuais, destacando momentos e artistas que marcaram a história da música no Brasil.
Aprovação pela Ancine: Artigo 1A.
Objetivo: Promover a riqueza cultural da música brasileira e educar o público sobre sua história.
2. Filme "Partideiros 2"
Descrição: Continuação do filme "Partideiros", este projeto foca nos grandes nomes do samba e suas contribuições para a cultura brasileira, além de mostrar a nova geração de sambistas.
Aprovação pela Ancine: Artigo 1A.
Objetivo: Preservar e divulgar o samba como patrimônio cultural brasileiro, proporcionando visibilidade a artistas veteranos e novos talentos.
3. Longa-Metragem "+40 Anos do Clube do Samba"
Descrição: Um longa-metragem em co-produção com a TV Cultura de São Paulo que celebra os mais de 40 anos do Clube do Samba, destacando a importância desse movimento para a música e cultura brasileiras.
Aprovação pela Ancine: Artigo 3A.
Objetivo: Registrar e celebrar a história e a contribuição do Clube do Samba, um importante movimento cultural que ajudou a moldar o samba e a música popular brasileira.
COMO APOIAR!
( qualquer valor )
Depósito direto na Conta do Projeto + 40 ANOS DO CLUBE DO SAMBA
Banco do Brasil - Banco: 001 - agência: 0287-9
conta corrente: 54047-1
PLAY PARTICIPAÇÕES E COMUNICAÇÕES LTDA - CEDRO ROSA
CNPJ: 07.855.726/0001-55
Conta OFICIAL verificada pela ANCINE.
Informe pela e-mail os dados e comprovante de deposito, para emissão do recibo
Como Patrocinar com Qualquer Valor
Identifique o Projeto: Escolha um dos projetos da Cedro Rosa que você deseja patrocinar.
Contato com a Produção: Entre em contato com a Cedro Rosa para obter mais informações sobre como realizar o patrocínio. Isso pode ser feito através do site oficial da Cedro Rosa ou por meio de contatos fornecidos pela produtora.
Realize o Aporte: Faça o investimento no projeto escolhido. Qualquer valor pode ser aceito, e você receberá um recibo de mecenato cultural como comprovação do investimento.
Guarde o Comprovante: Guarde o recibo de mecenato cultural para incluí-lo na sua declaração de imposto de renda. Esse recibo será necessário para deduzir o valor investido do imposto devido.
Declaração de Imposto de Renda:
Pessoas Físicas: Podem deduzir até 6% do imposto de renda devido.
Pessoas Jurídicas: Podem deduzir até 4% do imposto de renda devido.
Benefícios Fiscais
Ao patrocinar esses projetos, você estará não só apoiando a produção cultural brasileira, mas também obtendo benefícios fiscais ao deduzir o valor investido do seu imposto de renda devido. Para garantir que você está seguindo todos os procedimentos corretamente, é aconselhável consultar um contador ou especialista em imposto de renda.
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