Pelo fim desse estado! E Vandré não tem nada com isso

Não se apressem em conclusões. O título pede pelo fim desse estado de coisas que estamos vivendo. Nada de estado mínimo. Semana passada, no canal do YouTube do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) foi veiculada uma matéria feita por outro canal, durante a fracassada manifestação da Extrema Direita na praia de Copacabana. A flopada tentativa de esquentar a campanha pela anistia aos acusados pelas ações antidemocráticas de 8 de janeiro e a tentativa de golpe ainda em dezembro de 2022.
Vocês lembram daquelas risíveis e lamentáveis demonstrações de “patriotismo” dos acampados em frente de quarteis pedindo intervenção militar no país, cantando hino nacional para pneu, colocando celular na cabeça para se comunicar com extraterrestres e outras tantas bizarrices. Pois nesta manifestação, um repórter disfarçado de manifestante, conversou com alguns desses fanáticos em Copacabana, e ficou constatado que a chamada dissociação cognitiva, segundo os estudiosos, continua firme nessa turma. Entre as idiotices, a de um senhor, com camisa da seleção, afirmando que Lula, além de um cachaceiro inveterado, tem vários clones e um bilhão e duzentos milhões em uma conta no Banco do Vaticano.
Mas considerei o ápice das doideiras uma mulher vociferar: “Que golpe? Gente com Bíblia, guarda-chuva. Golpe é com metralhadora, com tanque, é com o Exército na rua”. E o ‘repórter’ perguntou por que não houve o golpe: “Porque são um bando de melancias. Tem que agir contra esse ministro do ‘SF’ (??), temos que fazer alguma coisa” e concluiu sua fala raivosa com o refrão de uma canção, que foi considerado um hino contra a ditadura militar: “Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Apenas para os mais jovens, o refrão é da canção Pra não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré, que ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968. A vencedora foi Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque de Holanda. Que foi brindada com uma vaia histórica no Maracanãzinho. Não que fosse ruim, dificilmente algo composto por Tom e Chico seria ruim, é que praticamente todos queriam a canção de Vandré como vencedora.
Na época, a canção, que também ficou conhecida como ‘Caminhando’, foi adotada como hino pelo movimento estudantil e pela resistência à Ditadura Militar. Para alguns, era a nossa Marselhesa. Vivíamos os Anos de Chumbo e a barra era pesada. Chico não estava no Brasil, vivia um auto exílio na Itália. Tom Jobim recebeu as vaias sozinho naquele domingo, dia 29 de setembro de 1968.
Passados pouco mais de dois meses, no dia 13 de dezembro, foi baixado o famigerado AI-5 e a barra ficou ainda mais pesada: fechamento do Congresso, cassações de parlamentares, censura mais sufocante. O regime endureceu de vez. ‘Caminhando’ foi proibida de ser executada nas rádios. No início do ano seguinte Vandré vai para o Chile, passando pelo Uruguai, e de lá segue para a Europa.
Durante algum tempo houve muita especulação sobre o que acontecera com o compositor. Teria sido barbaramente torturado e sofrido uma espécie de desequilíbrio mental. Há cerca de dois anos, ele foi entrevistado no programa Canal Livre da TV Bandeirantes. Negou que tenha sido torturado e que saíra do país porque a vida era mais confortável lá fora. Disse que tinha um contrato para cumprir com alemães que queriam fazer um filme com ele, em Munique. Na entrevista Vandré foi monossilábico quando a pergunta se aproximava de política. E também não lembrava de muita coisa.
Mas claro que ele era visado pelos militares. Walter Clarck, que era um dos homens fortes da Globo, relatou em sua autobiografia no início dos anos 1990, que durante o citado festival em 1968, recebera ordens para que Pra não dizer que não falei das flores não vencesse. Vandré minimizou a relação de hostilidade dos militares para com ele na entrevista da Bandeirantes. Mas Geraldo Vandré, esse grande artista, é um tema grande e complexo, fica para outra oportunidade e, diga-se: sua polêmica canção ficou em 28º lugar entre as 100 melhores canções brasileiras, em ranking organizado pela Revista Rolling Stones.
Voltando àquela mulher, que apesar da aparência saudável, sofre da tal dissociação cognitiva, mal que entre as características faz o contaminado acreditar em duas coisas diferentes ao mesmo tempo, eu me pergunto: onde estava essa senhora em 1968 quando a canção de Geraldo Vandré era essa espécie de hino contra a Ditadura Militar? Para ela, que denomina de “melancias” (verde por fora e vermelho por dentro) os militares que se recusaram apoiar o golpe, seria muito mais lógico ter declamado também aqueles contundentes versos da canção: “Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / De morrer pela pátria e viver sem razão”.
PS: O texto acima foi escrito na segunda-feira, dia 24/03, véspera do julgamento no STF que poderia transformar em réus, o Inelegível e outros envolvidos na tentativa de golpe contra a Democracia. Não sei se os fanáticos “patriotas” foram fazer algum protesto no local.
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