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Poder versus Delicadeza Opressão versus Sedução Imposição versus Revelação



 

Vou contar 3 historinhas para ilustrar os pares de opostos com que intitulei este texto:

 

 Um dos melhores amigos de meu filho aqui nos Estados Unidos e que também se chama Chris, contou que quando estava na Austrália, foi curtir uma vista conhecida, de uma montanha muito alta. Admirado, ele comentou para outros que lá estavam, que seria bom ter um binoculo para ver toda aquela beleza mais próxima. Imediatamente, um deles lhe disse: “You Americans have to maximize everything! Can’t you appreciate things as they are?”


Se Chris fosse um americano comum ficaria injuriado. Mas percebeu a critica e, capaz de rir de si mesmo, achou-a engraçada e percebeu como o australiano viu o seu compromisso com o poder do artificio (“maximize everything”), se sobrepondo `a paisagem natural e vista de maneira natural.


            2) Amo Marcel Proust e fui posta pra fora de um grupo no Instagram que se chama Poustagram (o nome até parece palavrão). Ja tinha visto algumas postagens meio qualquer coisa e nao me manifestei. Mas ontem, vi a foto de uma catedral gótica com a fachada toda Iluminada de luzes elétricas coloridas. A pessoa que explicou o que postou colocou a pergunta do que Proust acharia da catedral, assim enfeitada. Estava um horror, e pior, um duplo sacrilégio, o de banalizar a santidade gótica e o de esperar que Proust gostasse daquilo.


Marcel Proust foi um estudioso de catedrais góticas. Depois de ler o critico de arte ingles John Ruskin, com quem muito aprendeu, e quem, como Oscar Wilde, dava valor a arte em si mesma (“Art for art’s sake” dizia Ruskin) e “All art is quite useless” elogiava Wilde, que tambem sacralizava a arte atribuindo-lhe um valor intrinseco, e, para falar do proprio Proust, ampliando esse valor a uma dimensão mística, ao declarar que a obra de arte precede o artista, o qual, a “recebe”. Por isso, ele so deve descobri-la, traduzi-la, e nao esta livre de adicionar a seu bel-prazer nada que ja nao esteja contido nela e “sussurrado” por ela. Em poucas palavras, a obra de arte está alem do artista.


Voltando `a catedral gotica, achei a sua fachada na foto tao extravagante quanto as das construções falsas de Las Vegas e tive que, entre os “ahhs” e “ohhs” dos outros comentários, botar ali a minha critica:


Je crois que Proust la trouverai assez vulgaire et americanisé. Une cathedrale Gotique n’est pas un château a Disneyland. (Penso que Proust a acharia bastante vulgar e americanizada. Uma catedral gótica não é um castelo da Disneylandia).


Dali a dois dias vem a resposta, dizendo que Proust não tinha nada de anti-americano, que eu é que estava projetando o meu anti-americanismo nele. Entretando, essa pessoa que respondeu confessou que tinha examinado a minha conta no Instagram e visto que eu celebro Thanksgiving ( e daí?), que eu vou de férias pra Costa Rica etc, como uma pretensa detetive descobrindo algo secreto com que poderia me botar contra a parece. Então, respondi que ela, coitada, tinha perdido tempo em examinar a minha conta para se sair com uma conclusão irrelevante. Disse-lhe que também sou americana, adoro os Estados Unidos, e venero Walt Disney. Mas cada coisa no seu lugar: A Disneylandia é o reino do faz-de-conta e por isso cabe um castelo artificial e super iluminado, um castelo que é também um brinquedo. Mas quanto ao estilo gótico, sua autenticidade o faz completo em si mesmo e não precisa de nenhum efeito tecnológico, que até desmoraliza a delicadeza dos vitrais coloridos da catedral, que simplesmente contam com a irregularidade da luz do dia para iluminar suas cores. Adicionei que a tecnologia é profana, seus efeitos são opulentos, mas os do estilo gótico são sutis. Enquanto os primeiros são “fake”, seculares, altos, e impositivos, os efeitos das linhas verticais e da doçura do colorido dos vitrais góticos são sutis. Enquanto a imposição imbeciliza, a sutileza seduz.


Hoje, vi que fui tirada do grupo, mas parece que também tiraram a foto da catedral e todos os comentários sob ela. O que é sutil seduz, enquanto o que é opulento oprime.

 

Um curso online me relembrou que a primeira parte da Idade Media, que chamamos de “The Dark Ages”, girava em torno da pura glorificação de Deus e da destruição do ego. Musica naquela época só existia na igreja e eram cantadas por várias vozes, e sem instrumentos. Músicos e artistas não podiam assinar suas obras. Não há nada mais grandioso do que a supressão do ego no reconhecimento da glorificação de Deus. Alias, a supressão do ego, nas drogas entheógenas, é a condição fundamental para a revelação do divino.


Com a renascença, a centralidade do homem ou do elemento antropomórfico da Grecia antiga retornou, em grande parte por causa de descobertas tecnológicas na área do transporte e outras. Assim, as obras de arte, de imateriais que eram, passaram a exibir o conhecimento de anatomia e os corpos bem desenvolvidos e musculosos da Grecia antiga. O ideal grego também se estendeu para a música, que passou a ter regras trazidas da Grecia Antiga, e a ser enriquecida por instrumentos. A música secular passou a ser aceita, e a opera teve seu começo. Com a afirmação do homem, os artistas passaram a assinar suas obras e a gostar de serem reconhecidos.


Isso me fez entender porque Oscar Wilde, o mistico que melhor expressou com sua divina poesia a pessoa de Jesus, não gostava da Renascença. Nos dois anos em que ficou preso, a alma de Wilde, seu entendimento da humildade, sua aceitação de sua pessoa e sua capacidade de ver grandeza tanto no sucesso que teve quanto no sofrimento do injusto castigo que a hipocrisia inglesa forcou sobre ele, fizeram com que sua consciência ascendesse acima do bem e do mal, do conflito entre sofrimento e alegria que somente o coração místico neutraliza.


Não estou julgando a superioridade da época medieval sobre a renascentista de um modo geral, mas sim o efeito do poder humano que resulta da tecnologia, ao distanciar o homem de sua alma, sua capacidade de reverencia e sua vida contemplativa. Em poucas palavras, de sua comunicação com o que não deve nem tentar fazer caber dentro de sua cabeça: o alem dele mesmo, o divino. Ate algumas décadas atras, a tecnologia servia a uma vida mais confortável. Na Disneylandia, era servente da fantasia. Mas como a estória do feitico contra o feiticeiro, ela se sobrepôs ao que devia servir, e como resultado, os franceses pensam que o gotico tem o que lhe ser adicionado, e confundem o mal gosto de Las Vegas com a melhora desse estilo.


A mania de poder resultante da tecnologia trouxe a opulência, o que se soletra a altos brados na cara das pessoas, em detrimento do que seria delicado e sugestivo. E nesse barulho e imposição, as pessoas, porque se trata de tecnologia e ninguém quer ficar “pra trás” perdem o discernimento e a sensibilidade. Tudo tem que ser alem da conta, como se isso significasse mais força e poder., ao invés de pura e simples adulteração.  Já transformaram a torre Eiffel numa arvore de Natal com todas aquelas luzes sobre ela.

O golpe de misericórdia será fazer o gótico competir com Las Vegas.

 

Como começamos o ano, aproveito para repartir algo da sabedoria de Walt Disney como inspiração. Varias vezes, em cenas de filmes Disney que se tornaram históricas em Hollywood, ele disse : Sometimes, less is more.


Devemos entender isso, coisa que a Disney co. passa longe hoje em dia. Devemos resgatar nosso discernimento. Rezar para que Paris não vire o Paris de Las Vegas.


 

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