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PREOCUPAÇÕES

Foto do escritor: Léo VianaLéo Viana



É filho e neto que cresce sem muita responsabilidade, talvez reflexo da reconquista da liberdade e da necessidade de distribuí-la. Pra quem viveu o AI-5, isso não é pouca coisa. É a próstata, essa pequena glândula – nem tão pequena a partir de certa altura da vida – que insiste em se fazer notar mais a cada exame, atingindo em cheio todas as outras preocupações.


É a vida cara, inacessível para a maioria das pessoas, que mexe – ou deveria mexer muito – com todo mundo que tem condições de comer/morar/vestir nesta sociedade desigual. É o fígado, coitado, abalado e perseguido anos a fio por doses contínuas e crescentes de bebidas alcoólicas diversas, de procedência nem sempre confiável e por medicamentos igualmente agressivos, mas sob o manto da benignidade, prescritos – ou não – para corrigir outros males.


É o clima, cuja modificação se sente na pele, com frio fora de época ou calores insuportáveis e igualmente mal localizados no calendário sensorial. Impacto direto na produtividade do trabalho, na qualidade da saúde respiratória. Isso sem falar na elevação dos mares e nos países que desaparecerão, com êxodos forçados de populações inteiras. Pensar na magnitude das alterações faz um mal danado.


É a violência em todas as suas formas, do assalto à mão armada ao crescimento das milícias e seu inexorável domínio de áreas inteiras de cidades monumentais, como o Rio de Janeiro. É o igualmente nefasto domínio do tráfico de drogas, cujo combate só pode passar por uma gradual descriminalização das substâncias. Afinal, o álcool e o tabaco estão por aí matando legalmente, inclusive os raivosos defensores da moral e dos bons costumes, que se encharcam de bebida e bolinhas de tarja preta na defesa de suas teses conservadoras. É a violência da discriminação de gênero, com o avanço absurdo e inominável do feminicídio e do ataque a pessoas LGBTQIA+. Não há possibilidade de se manter a sanidade num mundo em que esse tipo de violência contra a pessoa humana siga se manifestando com a intensidade que vem ocorrendo. É preocupação permanente.


É o preconceito racial, que impossibilita a plena vivência da sociedade multirracial universal, visto que ainda são negados – direta ou tacitamente - direitos fundamentais aos não brancos em muitos dos lugares onde eles, os brancos, predominam nas classes mais favorecidas da sociedade. E esse câncer social se alastra ao ponto de contaminar as classes menos favorecidas também, com manifestações racistas se multiplicando nas camadas da base da pirâmide social.

É a confusão religiosa instalada pelo fundamentalismo, seja ele cristão, muçulmano ou judaico, com a consequente discriminação dos demais, numa ortodoxia que faz mais mortes do que salva vidas, se considerarmos o “custo-benefício” a partir dos pressupostos básicos do grande monoteísmo dominante.


É a destruição do mundo natural. A destruição desmedida das florestas na Amazônia, na Indonésia, na África Central. Na Amazônia para plantar commodities e vender pra China, mas não sem antes explorar criminosamente a madeira, garimpar o ouro com o mercúrio que mata a vida que resta, matar os povos originários em suas próprias terras, os ribeirinhos e todos quanto se opuserem a esse apocalipse.


Na Indonésia pra plantar dendê, mas não pra fazer moqueca, o que já seria também crime. A Bahia dá conta da produção necessária. O óleo de palma é pra fazer Nutella e cosméticos, principalmente. Mas mata os orangotangos e a floresta pra isso. Na África, o habitat de Gorilas e Chimpanzés é destruído pela falta de políticas para a garantia de subsistência dos povos e pelo avanço das produções de cacau, que abastecem as chocolaterias da Suíça e da Bélgica, ente outras.


É a preocupação com o mar, misterioso mar, que a cada dia se contamina mais de plásticos e outros resíduos da atividade humana. Isso sem contar com a sobrepesca, que faz diminuir os estoques e consequentemente torna mais cara a proteína que vem do mar, com impacto, claro, na alimentação das populações mais pobres. É também a poluição do ar, que mexe com o clima, preocupação já citada lá em cima. E o mundo parece despreocupado, aumentando o consumo de carvão e petróleo, reflexo dessa guerra imbecil que lambe o Mar Negro e ameaça se espalhar.

Por fim, é a preocupação, sem hierarquização, com o crescimento de outras – e muitas – práticas nazi-fascistas, daquelas que qualquer ser humano com ensino médio completo já ouviu falar, mas lamentavelmente não parece ter prestado a devida atenção, a ponto de muitos aderirem calorosamente a elas, notadamente, numa das grandes sociedades multiculturais do mundo, aquele lugar chamado Brasil.


Era nisso, com algumas omissões, mas nenhum exagero, que o Itamar vinha pensando na viagem de volta pra casa. O vôo saído de Confins tinha atrasado e o pouso no Santos Dumont tinha sido menos bonito do que normalmente. O céu cinzento e a chuva tiravam o brilho da paisagem.


O medo de voar sempre trazia pensamentos sombrios. Esses, lamentavelmente, eram todos reais.

Uma vez pousado, no entanto, é hora de mudar a chave. O nosso fascismo institucional foi derrotado na eleição, a Copa do Mundo começou (é no Qatar, mas vá lá, temos o Richarlison...) e o carnaval não demora a chegar!


Opa! E ainda há uns humoristas por aí, acampados em estradas e portas de quartel, que garantem a nossa diversão diária.


Tá feia a coisa, sim, mas há razões pra sorrir!!


Rio de Janeiro, novembro de 2022.

 

Ouça o jongo AH MEU DEUS DO CEU, jongo de Lazir Sinval.

Repertório Cedro Rosa.




 

Cultura



 


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