Preservando a Cultura e o Centro Urbano do Rio de Janeiro
O centro urbano do Rio de Janeiro, a exemplo de outras grandes cidades, concentra o maior número de instituições culturais, além de prédios públicos. Estas instituições dão caráter singular para a cidade. Elas conferem certo grau de sacralidade, entendida não apenas em termos religiosos, mas também em termos culturais. Assim, além de igrejas e conventos, há as bibliotecas, sedes de instituições, museus, auditórios, casas de espetáculo e outros.
Dentre as instituições que caracterizam uma cultura dinâmica, destacamos aquelas formadas historicamente a partir de eruditos ou profissionais de alguma especialidade para congregar os seus membros e promover o desenvolvimento do conhecimento em sua área específica. O presente artigo vem destacar três importantes organizações desta natureza sediadas no Centro do Rio de Janeiro.
Ouça essas músicas em homenagem ao Centro do Rio de Janeiro, na Spotify.
A primeira é a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), fundada ainda quando da chegada de D. João VI ao Brasil, portando entidade com mais de 200 anos e que, ao longo de sua história, tem desempenhado importantíssimo papel na defesa de teses, na viabilização de legislações e no apoio ao desenvolvimento cultural do comércio e da indústria do Rio de Janeiro. Não sem razão, ela é denominada também a "Casa de Mauá", pois o Barão (e, depois, Visconde) de Mauá a presidiu, como também o fez o Visconde de Tocantins, irmão de Duque de Caxias. Desde que éramos um império ela cumpre um fantástico papel na vocalização dos grandes temas empresariais. Tal papel foi reconhecido por todos os governos monárquicos e republicanos, e, particularmente, por Getúlio Vargas, presidente que ajudou a viabilizar a construção de sua sede, um magnifico edifício no estilo "Art Déco", na Rua da Candelária 9, onde a ACRJ mantém uma programação cultural voltada para o empresariado.
Embora seus associados concorram para as suas despesas, a maior parte das receitas era oriunda da locação de áreas de seu de seu edifício sede. Com a degradação do Centro da cidade do Rio e, também, com as mudanças que estamos observando na organização dos espaços laborais, onde pessoas trabalham remotamente em seus "home offices", o Centro da cidade do Rio vê uma enorme oferta de espaços outrora ocupados por escritórios, especialmente em edifícios mais antigos. São locais cujos proprietários não dispõem de recursos para 'retrofitálos' - nem tampouco o momento de mercado isso recomendaria. Há, portanto, que se pensar em saída criativa para a ocupação de tais edifícios, de maneira que se preserve objetivamente a finalidade da organização dona do espaço.
A segunda entidade que está na mesma situação é o Clube de Engenharia, ligado a grandes momentos da vida nacional. O Clube de Engenharia, fundado ainda nos primeiros anos da república, sucedendo outras iniciativas como o 'Clube Politécnico', que vinha da época do império, também tem um hall de realizações fantástico em apoio ao desenvolvimento brasileiro, tendo sido prestigiado por vários presidentes da república. A quantidade de cursos de extensão e a programação intensa de seminários e palestras que efetua contribuem para manter vivo o papel do Rio de Janeiro como polo de inteligência e competência na área de tecnologia.
Aqui temos a Universidade Federal (UFRJ), a Universidade Estadual (UERJ), a Pontifícia Universidade Católica (PUC), Universidade Estácio de Sá, entre outras tantas que mantém este caráter em nossa cidade. O Clube, que também era sustentado por aluguel de vários andares de seu edifício sede, hoje está desocupado e é grande a dificuldade de alugá-los no atual contexto.
Não deveria também ser preciso realçar a importância do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com quase 185 anos de existência. Foi fundado por D. Pedro II e abrigou os maiores historiadores do Brasil, como Varnhagen e Capistrano de Abreu. Ainda conta com Alberto da Costa e Silva e tantos outros importantes intelectuais, onde destaco Vitorino Chermont de Miranda e Marcilio Marques Moreira. O IHGB, assim como as demais organizações mencionadas, se encontra na mesma situação difícil em relação ao espaço de sua sede. As possibilidades de levantamento de recursos de modo convencional foram intensamente pesquisadas e procuradas ao longo do último governo, cujas sabidas restrições na área cultural penalizaram a todos.
Os três casos aqui mencionados poderiam ser sanados, senão de forma sustentável, por um período de transição entre 3 e 4 anos, se o poder público garantisse a cada um deles uma verba em torno de 80 mil reais mensais. Entendemos perfeitamente que não é nada fácil garantir esta monta para uma instituição. Por outro lado, não se propõe aqui um absurdo se levarmos em conta a programação que elas hoje, mesmo debilitadas, conseguem manter. Há que se criar um mecanismo, não necessariamente de remuneração, mas sim de compensação por parte de tais entidades a esta verba que o poder público - podendo ser municipal, estadual ou federal - a elas pudesse viabilizar. Os seus quadros técnicos, todos de notório saber em suas correspondentes atividades, poderiam se comprometer a promover aulas difusão de conhecimento.
Para isso, seu corpo de associados se disporia gratuitamente, em prol da entidade, em organizar, digamos, 80 horas de aulas por mês em favor do poder público. Esta carga horária corresponde a quase 4 horas de aula por dia útil em um mês. Com alguma criatividade, poderiam ser estruturadas na forma de diferentes cursos voltados para a comunidade escolar, o público voltado para o mercado financeiro ou científico. Aquilo que for mais conveniente e interessante para a instância que contribuir. O IHGB em termos conhecimento do Brasil, seus grandes momentos na história, seus desafios e sua geografia, poderia oferecer cursos em escolas públicas. Ao final destes 3 ou 4 anos se teria a oportunidade de promover conhecimento na maioria destes espaços. Da mesma maneira, a ACRJ, com seu grande contingente de empresários, poderia dar uma notável contribuição nas aulas de inovação e criatividade e sobre o funcionamento de diferentes setores da economia.
Assim, incumbindo-se o Clube de Engenharia da parte de tecnologia, a ACRJ da parte de inovação e criatividade empresarial e o IHGB da parte de história e geografia, se estaria dando de alguma forma um retorno significativo por meio dos grandes nomes que possuem. Renomados técnicos e acadêmicos cujas palestras hoje no meio empresarial - palestras de uma ou duas horas - podem ser remuneradas por valores que variam entre 10 mil e 40 mil reais. Estas mesmas pessoas estariam se dispondo a promover tais aulas.
Pode, eventualmente, não ser exatamente esta a solução. Uma coisa, porém, é verdade: se o poder publico não encarar de frente este momento, estas entidades estarão sendo golpeadas de morte e o acervo cultural dos serviços prestados por elas ao Brasil é inestimável e precisa ser respeitado.
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