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Verdades que doem na alma – o caso dos assassinatos de dois defensores da Amazônia.

Foto do escritor: Suzana M PaduaSuzana M Padua



Suzana M. Padua


A morte de dois batalhadores pela Amazônia brasileira nos deixa perplexos, atônitos e sem palavras para descrever a dor e a incredulidade dos absurdos que estamos vivenciando nesse momento do Brasil. Bruno Pereira e Dom Philips ficarão na história, assim como Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos outros que mostram nosso país como sendo cruel, sem visão e sem lei. O Brasil está entre os países que mais matam ambientalistas, com uma lista de mais de 300 assassinatos de ativistas (dos quais apenas 14 foram julgados), tornando-se o 4º país mais perigoso do mundo para quem defende o meio ambiente (Human Rights Watch, 2019).


Um governo que joga a culpa de tudo o que acontece de mau em outros, que nunca assume responsabilidades (que pelo menos buscasse averiguar a verdade para remediar os males e suas consequências), que reconhece que há locais no território nacional que são perigosos como se isso fosse normal e não fizessem parte das atribuições de quem governa a nação, que não enaltece quem luta pelos direitos humanos e pela natureza - a maior riqueza do Brasil -, não merece governar. Os valores estão invertidos - o que deveria receber aplausos é criticado e o que precisa ser abolido é incentivado. É assim no Vale do Javari e em muitos outros locais da Amazônia que se tornaram palco de barbáries. É assim com o desmatamento, pesca ornamental, garimpo ilegal que contamina rios que em qualquer lugar do mundo com um mínimo de visão seriam focos de orgulho pela beleza e valor genético que representam. É assim o desrespeito às populações originais do Brasil hoje vivendo com medo das agressões que vêm sofrendo. E, é assim que ocorre a morte de pessoas do bem, como é o caso dos dois defensores da Amazônia, Bruno e Dom, tragédia que clama por justiça.


Uma floresta com uma das mais ricas biodiversidades do mundo ser destruída para dar lugar a monocultura é extemporâneo, porque o princípio é incongruente. Não deveria jamais ser cogitado como alternativa de desenvolvimento. Como diz Caetano Scaravino, da ONG Saúde e Alegria, em um artigo publicado na Folha em 08/02/2022, “Amazônia Ilegal”, a legalidade só existe no papel para definir uma região do país. Hoje o maior bioma natural remanescente no Brasil é palco de todo tipo de ilegalidade.


Não é de hoje que a riqueza natural não é levada em conta. Floresta natural virou símbolo de pobreza humana, quando os dados atuais mostram que isso não é verdade. Onde mais se desmata, mais pobreza ocorre. Um bioma como Amazônia deveria representar um convite a nos debruçarmos sobre inovações que nos colocariam na vanguarda de um desenvolvimento baseado em uma bioeconomia moderna e de ponta, que já se sabe ser possível. Mas, ao contrário, o desmatamento nunca esteve tão alto, e nem por isso ficamos mais ricos. A pobreza se intensificou no Brasil como um todo nos últimos anos, e piorou exatamente nos locais onde o desmate ocorre com maior intensidade. Ora, precisamos de gente que pense grande, pense novo, pense com visão de valores que incluam as culturas tradicionais e as riquezas naturais, que quando perdemos é para sempre.


A sociedade civil tem construído exemplos que demonstram ser possível integrar o tripé do desenvolvimento com ganhos sociais, ambientais e econômicos em todas as regiões do Brasil, inclusive na Amazônia. Por que não promovermos encontros de trocas que levem a um delineamento de soluções possíveis e promissoras? Muito do que as organizações da sociedade civil têm realizado surte efeitos concretos com a integração entre ciência e conhecimentos tradicionais, setores governamentais e mundo corporativo e, especialmente, com o envolvimento de atores locais. São anos de experiências que merecem ser analisadas para que sirvam de inspiração no rumo que a região amazônica pode tomar.


Quem sabe exigimos algo nessa linha aos novos candidatos para qualquer posição de mando (mesmo que sejam recorrentes)? Poderíamos demandar posturas de compromisso que nos tragam possibilidades de inclusão real em suas políticas de estado, sejam relacionadas a pessoas de culturas diversas, sejam ligadas à natureza e seus elementos.


A vida precisa ser celebrada em toda a sua magnitude, e o Brasil é o melhor país para despertar essa consciência. É um processo de valorização do que existe e de regeneração do que precisa ser restaurado com base no respeito e no reconhecimento do que temos em nosso país, que é único. Um modelo baseado em ganhos para todos, inclusive para a natureza, só poderá nos trazer bons sentimentos de um presente e futuro melhores, pois as belezas existem e devem ser reconhecidas à altura que merecem.


Esses valores faziam parte dos dois amantes da Amazônia que foram mortos recentemente exatamente por defenderem o que merece ser defendido. É com o coração apertado que me solidarizo com as famílias de Bruno Pereira e Dom Philips. Ficarão para sempre em nossas lembranças como heróis e dignos de nosso mais profundo respeito e gratidão. Que a morte deles não seja em vão, como tem sido a de tantos “invisíveis”, mortos anonimamente nesse país tão desigual.


 

Músicas do campo e as florestas.



A Música da Familia Mário Lago.



 

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