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Foto do escritorLais Amaral Jr

Que música você quer ouvir? 

      


            No dia seguinte, Benjamim acordou ainda se sentindo abatido. A energia elétrica fora restaurada, mas a sua energia, ainda não. Sentia uma saudade incômoda, dolorida. Mas, de quem? Do quê? E enquanto cumpria o ritual de levantar e ir fazer o café, investigava na mente a fonte daquele sentimento. A conclusão o deixou mais abatido. Benjamim sentia saudades dele mesmo. Influência do que dissera a amiga Severa? Ou das coisas ruins que ouvira na rua? Talvez esse seja o pior tipo de saudade. Como matar a saudade de si próprio? Talvez com música, pensou ele. ‘Infelizmente o radialista ficará sem sua dose diária de otimismo. Não vai se sacudir, feliz’. Benjamim põe na vitrola uma bela canção francesa que fala de uma triste Veneza.


        Sua alma afundava. Como a Sereníssima. Olhou pela veneziana – ‘tola coincidência’, pensou. Lá fora se aproximava o radialista. O homem parou, como sempre, próximo à janela, pondo-se a ouvir. Benjamim sentiu uma ponta de remorso por achar que encheria de melancolia o espírito do locutor. Terminada a canção o homem se foi. Devagar, ainda com Charles Aznavour ecoando nos ouvidos. Certamente, ainda saboreando. Benjamim não ligou o rádio naquela manhã. Não quis confirmar seu suposto poder de influenciar o destino da cidade por meio da música. É uma canção triste. Lindíssima, mas triste. ‘O radialista pode até ter gostado. Sabe-se lá?’ A tristeza tem sua beleza. ‘Coisas da arte’ refletia Benjamim. ‘A arte imita a vida. E vice-versa’.


         ‘O mundo e a vida insistem em ser essa gangorra debochada. Parecem gargalhar da gente’, pensava, o velho Benjamim. Num momento estamos bem, logo, desabamos. Na cansada cabeça de cabelos brancos, as indagações tomam forma e Benjamim volta a questionar-se sobre o sentido da vida. “Para que serve?’ ‘Tudo acaba’. Veneza um dia não existirá mais, o nosso Centro Histórico também não. E até quem sabe, a humanidade. Tudo começa, anda, anda e acaba. Ele não se sentia motivado a sair de casa, andar pelo bairro buliçoso. A tal melancolia o dominara definitivamente. ‘Lá fora está ruim. A barbárie foi normalizada. As pessoas não se veem mais, verdadeiramente’. Sentou-se à mesa. O homem é mesmo o lobo do homem.


‘Viver faz algum sentido? O que é a vida afinal?’ Querer saber tudo não justifica a existência. ‘Há um ar de desfecho’, pensa ele. ‘O que vem depois?’ Volta os olhos da janela e vê uma formiga no prato no qual um biscoito de água e sal jazia a espera de ser consumido. Afasta o inseto gentilmente. Ele sabe que ali há vida pulsando. ‘Deve haver um propósito para o bichinho estar aqui’. Um pombo no telhado do vizinho chama atenção. Há um tom de despedida naquele arrulho. Como em tudo ao redor, pressente Benjamim. Decide não sair mais de casa. Muda o disco na vitrola. Põe o Choro que considera o mais belo de todos: Vibrações, de Jacob. ‘Essa música transcende. Uma leve tristeza e uma beleza imponente. Se tivesse letra, Aznavour gravaria’. Sentou-se na velha Vintage. Olhos fechados. 


Daqui a 15 dias o capítulo final.


“Que c'est triste Venise

Au temps des amours mortes

Que c'est triste Venise

Quand on ne s'aime plus

On cherche encore des mots

Mais l'ennui les emporteOn voudrait bien pleurer

Mais on ne le peut plus

Que c'est triste Venise

Lorsque les barcaroles

Ne viennent souligner


Que les silences creux” (Que C'est Triste Venise - Charles Aznavour / Françoise Dorin).


 

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Dança da Porta Bandeira, de Evandro Lima e Lais Amaral Jr.



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Evandro Lima e Sergio Fonseca: O Verso que Nunca Fiz.


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