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Foto do escritorLéo Viana

QUEDA LIVRE



Royal Gorge Bridge, Colorado, US.


Fazia um tempão que queria saltar de bungee jump daqui. Aquele elástico gigante. A gente vai em queda livre e no final o elástico estica e freia. Depois recolhem a gente. Uma coisa maravilhosa. Bom pra mente. Aqui é outro nível. A ponte mais alta da América. Tava ruim de viajar pra cá naqueles anos de governos de esquerda no Brasil.


Muita gente. Aviões lotados, uma encrenca danada. Não entendia que esquerda era essa, que fazia o pessoal se sentir rico. E aqui também, com Obama, era um clima de festa permanente, a economia mundial bombou. Por sorte, em 2008, um poucos antes da eleição daquele crioulo Obama (a que ponto chegamos...), a crise do Lehman Brothers dividiu as coisas entre quem era rico mesmo e quem tava só dando uma sorte. Os ricos continuaram ricos, os que estavam com sorte perderam aquela rodada e abandonaram o cassino. Saco. Difícil conviver com essa gente que pensa que é rico.


Agora sim, aqui no alto da ponte quase sem gente, sem aqueles brasileiros gritando. Rico não grita. Uns poucos ricos, os pobres estão penando com a pandemia, a 321 metros do leito do Rio Arkansas. O bungee jump mais alto do mundo. Dinheiro de família, o sonho americano. Esses democratas não vão acabar com isso!


Nascido no Brasil, também tinha passaporte americano. Não ia pular naquele troço que instalaram num guindaste na Praça XV, na Olimpíada do Rio. Arremedo do arremedo. Aliás, arremedo de Olympic Summer Games. Lá é sempre summer, pra começar. Aquele calor horroroso. Exotic people. Tinha estado lá na época por exigência de uns clientes importantes, gente do petróleo.


Ainda vivia no Rio por causa dos compromissos da empresa, mas isso estava em vias de acabar. Tava tudo resolvido para a mudança pro Texas. Não aguentava nem a Flórida. No sul, só o Texas. Mas, uma vez instalado, em pouco tempo mudaria para o Maine ou Washington, o estado do noroeste, não a capital. Mas o sonho mesmo era o Alasca. Aquilo sim. Claramente republicano e, apesar de meio selvagem, rico.


Agora, o importante mesmo era saltar da ponte. 321 metros de queda livre no bungee jump, com o Rio Arkansas lá embaixo. Até a paisagem é rica. Esses cânions, uma beleza. Não é aquela coisa exótica de Amazônia, Mata Atlântica, África. Aquilo tudo esconde gente pobre, índio, bichos que passam doença. Isso aqui não. Quase estéril. Os símbolos da conquista do oeste na terra das oportunidades. Índios mortos às pencas, em batalhas pela implantação de um modelo de exploração da terra, como deve ser. O extermínio daqueles bisões pra fazer casacos pros conquistadores que chegavam.


Saltar daqui é como abraçar a América e conquistá-la, como fizeram tantos. Pena que, desse modo, também chegou uma grande quantidade de pobres, que acabaram criando aqueles guetos horríveis em Nova Iorque, São Francisco. Mesmo no Texas tem um monte de mexicanos e aqueles descendentes de escravos que comem frango frito, mas ao menos cada um sabe o seu lugar aqui. Já que tinha mesmo que acabar com a escravidão, difícil entender porque não mandaram todos para a Libéria, não é mesmo?


Tinha lido sobre como se prender ao equipamento, para evitar o contratempo de soltar do elástico. E provavelmente a pessoa responsável pela manutenção e serviço seria um pobre, ou pior, imigrante. Não se pode confiar. Eles odeiam e invejam aos bem sucedidos que fazem uso do material. Afinal, quem precisa de um bungee jump é um executivo, um CEO, um banqueiro, um filho de família rica com problemas psicológicos decorrentes da gestão da herança. Pobre não precisa de emoção.


Um chicano e um negro? Sim. Os dois responsáveis pela checagem do equipamento eram os piores possíveis. O que esses caras poderiam entender daquele equipamento caríssimo e destinado ao prazer de pessoas diferenciadas, de posses? Deixou-se tocar a contragosto. Ao menos ambos os pobres trabalhadores estavam de máscara. Certamente emitiriam maus fluidos. Ele não usava. Não é obrigatório. E na América ninguém pode obrigar ninguém a nada. Especialmente quando se é rico e republicano.


Apertaram aqui e ali. Incomodava um pouco. Tinha a pele sensível. E, mesmo, seguia sem confiar naqueles exóticos. Faziam as coisas com ódio, queriam estar no lugar de quem saltava e usufruía daqueles prazeres. Não gostou do serviço, dos mosquetões que prendiam a corda aos diversos engates em seu corpo. Passou em revista todo o serviço que fizeram. Afrouxou aqui e ali, estava incomodado. Checou os engates. Tudo discretamente, para evitar ter que trocar palavras com aquela gente subalterna. Estranhava que alguns ricos conversassem animadamente com eles. São universos diferentes. Aquela gente loura e rica não poderia ter nada pra dizer àqueles tipos ou ouvir deles. Talvez fossem europeus. Esses são mais dados ao exotismo, gostam de caçadas na África, cruzeiros na Amazônia, viagens ao Nepal. Gostam da pobreza, enfim. Não entendia e não se habituava àquela invasão de franceses no verão do Rio. Aquele monte de gente querendo suar junta e fantasiada naquela barbárie que é o carnaval. Tinha ido uma vez ao de Veneza. Incomodava menos, mas aquela cidade velha era horrível.


Terminada a auto checagem, se aproximava da lateral da ponte, para o salto. Imaginava aqueles pobres todos no Brasil, mortos de inveja. Saltava da mais alta ponte da América. No Brasil, sabia de gente que pulava da ponte Rio Niterói, mas pra dar fim à vida. Geralmente uma vida de merda, como quase todas lá. Ele não. Era rico. Cruzara a ponte umas vezes pra ir a Búzios, mas isso foi antes do helicóptero. Cruzar São Gonçalo dava urticárias só de lembrar. E aquela Niterói decadente? Mesmo Búzios tinha perdido o encanto. Nos anos da esquerda aquilo foi invadido por pobres que não se contentavam mais com Iguabinha (é esse o nome?), São Pedro da Aldeia e Araruama. Arraial era uma favela só. Búzios caminhava em direção semelhante.


Chegou a sua vez. Com o sotaque latino forte, o mexicano perguntou se ele se sentia bem e confortável com o equipamento. O negro, grande e forte, o segurou para ficar na posição correta. Seriam uns oito segundos de queda e alguns repiques do elástico. Tudo levaria uns 90 ou 120 segundos, até que estivesse de volta à plataforma. Não entendeu direito o que disse o latino. Por que é que essa gente não aprendia a falar direito? O negro tinha aquele acento sulista de revolta, ao invés do necessário agradecimento por haver sido acolhido naquela terra. Ingratidão!


Buscava esvaziar os pensamentos para aproveitar ao máximo a experiência. Mas o entorno trazia questões. Esses pobres. Por que existem? O mundo seria mais bonito e mais harmônico sem eles.


Na iminência do salto, o frio na barriga traz aquela revisão da vida. A infância rica, visitas à Suíça, férias em Nova Iorque, a Disneylândia da Califórnia. A casa dos avós no Maine. Era o exótico entre os primos por morar no Brasil. Nunca gostou, mas ao menos estudava em escola bilíngue. E a ditadura mantinha o Brasil sob controle. Os aeroportos eram vazios e frequentados por gente selecionada. Pobres sempre souberam o seu lugar. Detestava futebol, mas se orgulhava de os primos americanos nem saberem do que se tratava.


Também não gostava de beisebol ou basquete. Muitos negros, muitos imigrantes. O tênis era interessante, tinha até jeito aristocrático. Assim como o golfe. Sem aglomeração, sem gente se tocando. Saltou. Oito míseros segundos. O mal da América veio do pós-Woodstock e pós Luther King. Aquela juventude querendo sexo livre e esbórnia e os negros querendo mais que fazer música e praticar esportes. Só podia dar no que deu. Obama e esse maldito Obamacare, pobres com acesso à saúde. Ainda bem que o Trump veio corrigir essas coisas. Injustiçado. Perdeu com fraude a reeleição. Agora querem até controlar as armas.


Os comunistas venceram. E a China ainda manda esse vírus. Agora é capaz de ter que fazer acordo com eles, como já fizeram com a União Soviética. Que Rússia, que nada. Aquilo segue sendo soviético. Eles ainda querem nos destruir. A China é só uma cortina de fumaça. Acho que vou procurar um núcleo da Klan. Isso aqui tá uma bagunça. Daqui a pouco tem chinês no governo. Esses segundos não passam. Brasil? Volto não. Vou ficar de uma vez.


Votei no Bolsonaro, mas tem pobre demais lá. Ele não vai conseguir. Nem com o apoio dos ótimos conservadores locais. Joias raras. Um Ernesto, um Weintraub, um Omar Terra, um Ônix. Gente capaz, mas insuficiente para mudar um quadro tão terrível. Aqueles filhos dele, gente da melhor qualidade, empreendedores.


Meus negócios funcionarão melhor se tocados daqui. Escritórios nas Bahamas e no Panamá sempre facilitam, mas posso tocar pela internet a partir de Dallas ou Austin. Parece que está terminando a queda, vão faltar os repiques. Repuxa duas vezes e eles me puxam pra cima. Lindo, o rio lá embaixo.


Clic.

As tornozeleiras, afrouxadas por ele mesmo, cederam. Pânico no alto da ponte.

O helicóptero do resgate decolou imediatamente.

O que restou da queda foi trasladado e cremado no Caju. Insistência dos filhos, cariocas da gema.

A PF do Brasil e o FBI investigam os negócios.


Armas, parece.


 

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