Querido diário
Assim como muitas das garotas que viveram sua adolescência nos anos noventa, eu também tive um diário. Um não, vários. E neles escrevíamos sobre o que acontecia no nosso dia a dia na escola, em casa... Também colocávamos pequenos objetos ou papéis que representassem algo importante, como o papel de bala que ganhamos do paquera da sétima série, o ingresso daquele show que fomos com a turma da nossa rua, algo que lembrasse o primeiro dia do primeiro emprego. Lá também costumávamos dissertar sobre nossas alegrias e angústias, como gostar do mesmo garoto que a nossa melhor amiga, o planejamento das festinhas de final de ano na sala de aula, enfim...os diários guardavam momentos preciosos.
Não sei na verdade onde essa prática surgiu e se era algo comum por aí afora, porém dentro do meu círculo social, quase todas as meninas tinham um. E com certeza fazia mais sucesso com o público feminino. Entretanto, irmãos mais velhos, primos e colegas de escola queriam sempre dar uma espiadinha no que estava escrito. Quanta curiosidade! Quem sabe ali não estava guardado um grande segredo, uma revelação que iria impactar os nossos dias?
O tempo passou e nos tornamos adultos. E o hábito que um dia era diário, foi perdendo a frequência até desaparecer por completo. A vida atribulada, carreira, família, inúmeras tarefas projetos e afazeres não deixaram tempo livre para a escrita. Porém uma reflexão me veio à mente. E se tivéssemos todos nós cultivado o hábito de escrevermos em um diário, como seria essa prática nos dias de hoje? Sobre o que escrevereríamos nele? Sobre os nossos medos, frustrações? Sobre o nosso dark side, aquele lado nosso que não gostaríamos que ninguém descobrisse que existe e não colocamos pra fora, não contamos a ninguém?
Será que escrevereríamos sobre o que esperamos da vida, das pessoas, sobre os nossos planos, nossos desejos mais íntimos, sobre como lidamos com a dor e o vazio dentro de nós? Sobre como podemos fazer melhor todas as tarefas que executamos ao longo de nossos dias, de nossas vidas? Sobre o exercício diário e contínuo de sermos pessoas melhores para os outros, para nós mesmos?
Talvez o nosso diário ainda esteja aqui dentro de nós. E acredite, muitas vezes pode fazer muito bem passar o que está guardado no coração para o papel. As idéias fluem e nos damos conta de muita coisa sobre nós mesmos que ainda nem havíamos percebido. E isso pode ser mesmo uma terapia de auto conhecimento. Mas pode ser somente exteriorizar o que está dentro de nós. E você? Sobre o que escreveria no seu diário se fosse iniciar essa prática agora?
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