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Foto do escritorLéo Viana

REFERÊNCIAS CRUZADAS




Saída do mercado, muita bolsa, carne descongelando depois de muito tempo na fila, o pão ficando molhado, a garrafa de vinagre esmagada sob um saco de batatas que por sua vez suportava o pacote de cinco quilos de arroz.


Carminha encontra Nilzinha. As vizinhas não se viam havia muito tempo, desde que Inocêncio, marido de Nilzinha, brigou com Edmar, marido de Carminha, e aumentou o muro, impossibilitando o contato direto entre as duas pela área onde ficavam os tanques de lavar roupa. Os afazeres domésticos, o trabalho e os horários desencontrados fizeram o resto e afastaram as duas.


- Carminha, tu te lembras de Elizete, prima de Jó que mora em Itapipoca, terra de Zuleide?

- Zuleide filha de Anastácia, aquela que veio do Acre amasiada com Zezinho parente de Noca do armazém?

- Essa. Pois tu sabes que Zuleide agora é vizinha de Nazinha, que vem a ser conhecida de Amaral, primo de Otaviano, que foi polícia e anda metido com confusão de terreno. Diz Zé Pedro que até comprou um.

- De Amaral ou de Otaviano?


- De Otaviano. Amaral trabalha sério. Faz tempo que ajuda Oswaldinho, o do caminhão, que faz frete junto com o marido de Rosinha, filha de Seu João da Couve, que veio de Icatu no mesmo pau de arara que Isabel, parente afastada de seu Abelardo, zelador da igreja.

- A igreja de padre Amadeu, aquele que foi pego com Tércia, cunhada de Zefa, contraparente de Seu Edgar da Dina, sócio de Aristeu do mercadinho aquele, que era antes o depósito de bebidas do Juca Frouxo?

- Porque frouxo?

- Diz que levou uma surra dos vizinhos porque ameaçou bater na mulher, Olguinha, pessoa boa toda vida. Tão boa que perdoou ele, mas disse que se ele levantar a mão pra ela de novo, deixa a vizinhança linchar. E quem comandou a pancadaria foi Eunice, tia de Etelvina, que é a irmã mais nova de Eliezer, aquele do carro branco, namoradinho da caçula de Seu Manoel Alfaiate, a Deisinha.

- Deisinha já tem namorado?


- Ihhh! Cê não sabe é de nada! Tem quem diga que a pobre já tirou até filho do safado! E diz o povo todo que aquele carro branco tem mais história pra contar que os convidados daquele programa besta do Porchat, que dá de madrugada na TV. Eu vi um dia desses porque tava esperando Inocêncio voltar da casa da mãe dele.

- E a mãe de Inocêncio, como está?

- Ai, sogra é uma coisa difícil, né? Tá muito velhinha, cheia de problema e meus cunhados tudo mamando na pensão da velha. Inocêncio é o único que ajuda sem pedir coisa nenhuma pra ela. A pior é Mariquita, filha de Idelfonso e de Cremilda, irmã mais velha de Inocêncio. Não trabalha, adotou Crispim, filho de uma ex-cuidadora da avó que se amigou com Gaspar, o enteado de Noemi, vizinha de Nestor, tio de um amigo de Onofre, aquele do armarinho.

- Ainda tem o armarinho?


- Tem mais não, boba. Virou lanchonete, ponto de jogo do bicho e agora parece que é depósito de bebida. Só vejo o povo bebendo em frente e umas motos de entrega. Parece que tem um negócio de “Zé”. Escuto o pessoal falar. O dono é o Moraes, o que veio de Rio Pomba depois da enchente grande. Acho que era conhecido de Orlandinho da farmácia, o que é tio de Iraci, vizinha de Arletinha, aquela do cabelo vermelho. Mas parece que agora pintou de azul. E quem pintou foi Madalena, que abriu salão ali onde era o botequim do Neco, primo de Aninha que vem a ser comadre de Marcelo, o tio de Sandoval, o do grupo de pagode. Mas agora tá cantando sertanejo e diz que já fez até show em São Paulo, naquelas exposições cheias de gado caro, que dá leilão na TV de madrugada, sabe?


- Sei muito não… Mas tu me perguntaste de Elizete. Tô lembrando dela… não era uma magrinha, do narizinho arrebitado, meio cara de freira?

- Não! Elizete era uma alta, forte, cara de passista! Parecia muito com Leonor, a filha de Seu Chico que fugiu com o irmão de Alexandre do Posto.

- O Posto de gasolina?


- Não! O posto de saúde. Ele quem anotava as coisas pra vacina, junto com aquela outra baixinha, a Sueli, irmã de Nelsinho.

- Mas… E Elizete? O que tem ela?

- Não sei. É que sonhei com ela e deu uma saudade danada.

- Ah, sim...

- Até mais, vizinha. Vamos ver se a gente se encontra mais.

- Pois é, querida. Faz tempo que não tenho notícias de ninguém. Nem deu tempo. O que eu te disse foi só o que Netinho, filho de Cleuza, passou pra mim. Garoto fofoqueiro, ele.



Rio de Janeiro, maio de 2023.


 

Música, Arte, Cultura



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