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Reflexões sobre "Ainda Estou Aqui" e o Jornalismo



Assistir ao filme "Ainda Estou Aqui" é, antes de tudo, um mergulho profundo na memória histórica do Brasil e um convite a refletir sobre o papel da imprensa na construção — ou omissão — de narrativas. Para quem atua no jornalismo, como eu, a obra vai além de sua dramaturgia e se torna uma oportunidade de questionar nosso próprio ofício, tanto em sua capacidade de ser testemunha ocular da história quanto em suas falhas em momentos cruciais.


O filme aborda a prisão, o desaparecimento e a morte de Rubens Paiva, deputado federal e militante da democracia, vítima do regime militar instaurado em 1964. Em várias passagens, o jornalismo é colocado em destaque, seja por sua ausência, quando a prisão de Paiva não foi noticiada pela imprensa brasileira, seja por sua presença estratégica, como nas tentativas de aliados de levar informações à imprensa estrangeira.


A relação entre o jornalismo e o poder é exposta de forma crua. Quando a filha de Rubens Paiva questiona por que sua mãe, Eunice, daria uma entrevista a uma "revista vendida", ela aponta para a cumplicidade de parte da imprensa com o regime militar. Essa cumplicidade não é mera ficção: veículos como O Globo e a Folha de São Paulo apoiaram o golpe de 1964.


Décadas depois, alguns desses jornais reconheceram publicamente esse apoio como um erro. Em 2013, O Globo publicou um editorial admitindo que seu apoio ao golpe foi equivocado, afirmando que "à luz da História, esse apoio foi um erro". A Folha de São Paulo, embora tenha reconhecido seu apoio ao regime, gerou controvérsia ao utilizar o termo "ditabranda" para se referir à ditadura, o que foi amplamente criticado.


Outra cena marcante ocorre quando Eunice, já como advogada, recebe a certidão de óbito do marido, décadas após o crime. Um jornalista pergunta: “Não há coisas mais importantes para serem resolvidas no Brasil do que ficar revendo o passado?”. A pergunta, de aparência banal, carrega a insensibilidade e a tentativa de apagar a importância da memória e da verdade.


O filme também utiliza o jornalismo como fio narrativo, mostrando recortes de jornais que documentam a prisão e a morte de Rubens Paiva. Esses registros, aparentemente objetivos, revelam a força do jornalismo como testemunho, ainda que limitado pela censura da época. Até mesmo a luta de Eunice contra o Alzheimer, na fase final de sua vida, é tocada pela imprensa: sua memória volta brevemente à realidade ao ouvir o nome de Rubens Paiva em uma reportagem televisiva de 2014.


O jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, é uma peça central nessa história. Sua atuação na imprensa e na literatura não apenas mantém viva a memória do pai, mas também reforça a importância de um jornalismo comprometido com a verdade e com a democracia.


Ainda Estou Aqui vai além de um relato pessoal e se estabelece como um importante registro histórico. Ele nos lembra que o jornalismo não é apenas um cronista passivo dos fatos; é também um ator político, cujas escolhas — sejam elas de denúncia, omissão ou cumplicidade — moldam a história.


Não há jornalismo sem história, assim como não há história sem jornalismo. O filme é um alerta poderoso de que, sem uma imprensa livre, a democracia se fragiliza. E se hoje “ainda estamos aqui”, é porque seguimos defendendo a memória, a verdade e os pilares do Estado Democrático de Direito.


O filme e a imprensa, em sua melhor forma, nos lembram que “ditadura nunca mais” é um compromisso que deve ser renovado continuamente. Afinal, sem jornalismo, não há democracia; sem memória, não há futuro.


*Marcio Ferreira é jornalista, Mestre em Sociologia, Doutorando e Sociologia Política pelo IUPERJ/UCAM e membro da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Munícipio do Rio de Janeiro


 

Como o sucesso de "Ainda Estou Aqui" pode impulsionar o conteúdo nacional

e a economia criativa


O filme "Ainda Estou Aqui", que ultrapassou a marca de 2,5 milhões de espectadores no Brasil — equivalente a mais de 1% da população — é um marco significativo para o cinema nacional. Este número impressiona ainda mais considerando os desafios do mercado cinematográfico no país, marcado pela escassez de salas de cinema e pelo alto custo dos ingressos, que muitas vezes limitam o acesso. O sucesso de produções como esta não só evidencia o apetite do público por histórias autênticas e de qualidade, como também abre espaço para reflexões sobre o impacto na valorização de conteúdos culturais e no fortalecimento da economia criativa.


Cinema, música e economia criativa

Filmes de grande alcance, como "Ainda Estou Aqui", têm o poder de atuar como catalisadores para outras áreas da cultura, especialmente a música. A trilha sonora de uma produção cinematográfica pode alavancar o trabalho de compositores e intérpretes, conectando-os a novos públicos e mercados. Além disso, histórias bem contadas estimulam o surgimento de mais produções nacionais, gerando emprego e renda para diretores, roteiristas, técnicos, músicos e uma ampla rede de profissionais.


No cenário mais amplo, este ciclo virtuoso também ajuda a consolidar o Brasil como um player global de soft power, destacando-se por sua diversidade cultural. Quando um filme nacional rompe barreiras de público e arrecadação, ele reforça o potencial de outros setores criativos, como design, moda e artes visuais, que se alimentam das narrativas culturais locais.


O papel da Cedro Rosa Digital



Nesse contexto, a Cedro Rosa Digital emerge como um ator essencial na integração entre o audiovisual e a música. Fundada por Antonio Galante, a empresa não apenas certifica e distribui obras e gravações musicais globalmente, mas também tem investido na produção de conteúdos audiovisuais que exaltam a música brasileira.


Entre os projetos em andamento estão a minissérie "História da Música Brasileira na Era das Gravações" e o documentário "+40 Anos do Clube do Samba", uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo. Essas iniciativas não só celebram o legado musical brasileiro, mas também criam oportunidades para novos artistas e técnicos, conectando-os a um mercado global em constante expansão.


Além disso, a Cedro Rosa está desenvolvendo o sistema CERTIFICA SOM, uma ferramenta baseada em blockchain que garante dados precisos sobre músicas, compositores e intérpretes, permitindo que todos os envolvidos sejam creditados e recebam os direitos autorais de forma justa. Este sistema conta com parcerias estratégicas, como a UFCG, EMBRAPII e SEBRAE, além do apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia.


Um futuro de integração cultural

O impacto de iniciativas como "Ainda Estou Aqui" vai muito além das bilheterias. Elas abrem portas para que o conteúdo nacional de qualidade — no cinema, na música e em outras atividades criativas — ganhe força e relevância, tanto no mercado interno quanto internacional. Com projetos inovadores e compromisso com a diversidade cultural, a Cedro Rosa Digital demonstra que é possível unir tecnologia, cultura e economia para criar um ciclo sustentável de valorização e exportação do talento brasileiro.


Esse é o caminho para que histórias genuinamente nacionais continuem sendo contadas, ouvidas e aplaudidas, tanto dentro quanto fora do Brasil.


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