Resenha pro Ciron num Quilombo em Volta Redonda
Quero chorar o seu choro, quero sorrir seu sorriso, valeu por você existir, amigo...
É... foi um fim de semana de alta carga emocional para o escriba. Quinta-feira, dia 4, fez três anos que o grande Aldir Blanc bateu suas asas e subiu. Eu pensei em escrever algo a respeito. Aldir, um gênio que eu queria conhecer pessoalmente, mas não deu tempo. Pouco depois da partida, fiz a letra de um choro (“O Encantador de Esquinas”) composto pelo parceiro Guido de Castro, também morador da Tijuca. Saiu no álbum ‘Saideira’. Ainda bem que na época eu não sabia que dois baitas, Moacyr Luz e Moyseis Marques o tinham homenageado com 4 de maio – Para Aldir Blanc. Eu ficaria inibido. Moacyr e Moyseis são dois monstros da música que muito admiro e sou fã.
Como disse, pensei em escrever essa semana alguma coisa motivada pelo vazio deixado pelo Aldir, só que eu tinha um compromisso no sábado, dia 6, no Clube Palmares, em Volta Redonda, que interferiu. O compromisso, foi a ‘Resenha pro Ciron’. A ‘Resenha’ é o encontro que acontece aos domingos a partir das 11 horas, uma roda de samba de lamber os beiços. E com entrada franca. Mas esta, especialmente realizada no sábado, teria entrada cobrada. A justificava era a ação beneficente para angariar recursos e ajudar no tratamento de saúde do músico. Ciron Silva não está nada bem. Doença pesada que o impossibilita de trabalhar.
Ciron é músico, arranjador que já trabalhou com muita gente. É professor de violão, foi coordenador de música da Fundação CSN, o ‘Sete Cordas’ do Quinteto Vera Cruz, grupo de Choro, muito prestigiado no Sul Fluminense. Além disso tudo, foi um dos fundadores da ‘Resenha’ do Clube Palmares, do qual é vizinho. Tirando todas as qualidades artísticas que acumula, Ciron é um ser humano da melhor qualidade. Cara super gente boa, respeitado e estimado por muita gente. Por isso a iniciativa dos amigos foi o maior sucesso e certamente deverá se repetir. Ele está necessitando muito desse apoio.
A roda de samba foi rolando, como sempre, no mais alto nível. O pessoal participa por amor à arte e o ambiente tem aquele padrão de aconchego, exalando harmonia, simpatia, camaradagem. Parece outro mundo. Gente simples, se divertindo com coisas simples e genuínas. Samba do bom. E como o Ciron é vizinho, dá pra ver a casa dele que fica do outro lado da rua, na margem que é uma subida de morro. Assim, chegando na janela ou na varanda dá pra ele ver o quintal onde rola o Samba. E havia ainda uma esperança que dessa vez ele descesse até o clube.
Mas a esperança foi morrendo com as informações que corriam de boca em boca, que seu sistema imunológico frágil, não permite contato com tanta gente. Recomendações médicas.
E o samba corria gostoso, gente chegando, inclusive para regozijo geral, o mestre Luiz Miranda, um veterano ‘Oito Cordas’ do Choro e do Samba. Até que finalmente, o clímax, um incontrolável tornado de emoções se formou no quintal abençoado pelo majestoso flamboiã.
Alguém viu e mostrou (o pessoal não parava de olhar para a casa do homem). Ciron Silva chegara à varanda e acenava para o quintal do Palmares. Nossa! A massa toda foi retribuir acenando emocionada. Aí se viu como tem muita gente que não é de ferro. Imediatamente o pessoal começou a entoar ‘A Amizade’, sucesso do Fundo de Quintal. Meu amigo, o que se viu de gente grande com o rosto lavado de lágrimas sinceras, não está no gibi. Discordei do meu velho pai mais uma vez. Homem chora, sim, pai. E viva Ciron Silva!!
“Amigo, hoje a minha inspiração Se ligou em você E em forma de samba Mandou lhe dizer Tão outro argumento Qual nesse momento Me faz penetrar Por toda nossa amizade Esclarecendo a verdade Sem medo de agir Em nossa intimidade Você vai me ouvir: Foi bem cedo na vida que eu procurei Encontrar novos rumos num mundo melhor Com você fique certo que jamais falhei Pois ganhei muita força tornando maior
A amizade. Nem mesmo a força do tempo irá destruir Somos verdade. Nem mesmo este samba de amor pode nos resumir
Quero chorar o seu choro Quero sorrir seu sorriso Valeu por você existir, amigo” (A Amizade - Bicudo, Cleber Augusto e Djalma Falcão)
Arte e Cultura
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