Revelação
Seria aquilo o começo do fim?
Eu nunca tinha visto uma calmaria tão estática. Congelava o momento presente como uma pausa cósmica servindo de prefácio a algum acontecimento bíblico, o poente avermelhando todo o céu de modo loucamente homogêneo e fazendo com que qualquer ponto da extensão atmosférica acima de minha cabeça parecesse igualmente perto da luz.
Até mesmo as janelas das casas ao longe lá do outro lado refletiam o mesmo fulgor. As ruas estavam vazias, a não ser por um casal idoso que parecia hipnotizado no gramado em frente de sua casa. O homem e a mulher olhavam ao longe e, como eu, deviam esperar, mesmo sem saber, o desvendar do segredo que faz as coisas acontecerem; alguma revelação positiva da natureza sobre o que se passaria no dia seguinte. Os passarinhos, que nessa hora esvoaçam de lá pra cá antes de pousar nos fios e nas árvores haviam se escondido. Meu telefone já tinha mandado sinais irritantes de alarme informando o que se devia fazer para diminuir os riscos que traria consigo o furacão Hilary, o qual chegaria nessa área no dia seguinte. Seria o primeiro a assolar o Sul da Califórnia!
Atualmente, a sucessão de desastres naturais multiplica as teorias de conspiração. A mulher encarregada de levar a nossa cadela Doberman para passear acredita em todas elas. Vive em guerra mental contra o governo. Lembrei-me da vez em que me mostrou aviões no céu e afirmou que eram programados para mudar o clima e fazer todo mundo entrar pelo cano. Perguntei a ela o que o governo teria a ganhar com isso, mas ela continuou seu discurso inflamado sobre o incêndio no Hawai ter sido causado de propósito. Afirmou que lasers foram jogados nas florestas e até mesmo nas casas das pessoas e concluiu:
“Eles querem fazer todo mundo ter que morar nas cidades “15 minutos”. As pessoas ficam sem nada e tem que mudar pra la!”.
Insisti: “ E o que ganham os governantes com isso?”
“Total controle sobre a população!”, ela respondeu.
“Se você acredita nessa perseguição deve achar indigno continuar a viver!”
A verdade é que se sentir perseguido, nesses tempos de frieza digital e anonimidade, passou a ser o estado “normal” de muita gente. Para muitos, ser perseguido equivale a ser digno de perseguição, quer dizer, a ser especial. Nesses casos, a paranóia resulta de uma terrível sensação de anonimato. As pessoas ficam se imaginando clonadas e constantemente espionadas. Mas outros querem se achar capazes de ver atrás dos bastidores, a serem os únicos acima de qualquer engano.
A frieza do anonimato digital, a falta de responsabilidade pelo que se joga na internet, o partidarismo que ela aumentou no mundo, secionando as pessoas através das crenças mais elaboradas, parecem ter acabado com quaisquer padrões de objetividade factual e jogado a humanidade numa segunda torre de Babel. Independentemente do que é verdade ou mentira, esse vale tudo dá a pensamentos loucos o direito de virar teorias.
Antes do pôr do sol prefaciador na véspera do furacão chegar aqui, o jardineiro veio fechar a irrigação das plantas. Durante o pouco tempo em que falamos, senti por ele uma empatia muito além das palavras. O mesmo se deu em relação aos vizinhos quando conversamos sobre o que estava por vir. Encarar ameaças que não se pode controlar nos bota em contacto com nossa alma. Assim como na pausa cósmica que congelou o presente, todas as contingências desaparecem e a essência se manifesta. Ao olharmos o próximo, as diferenças de idade, de classe, de cor de pele e de cultura desaparecem e só vemos nele alguém com quem repartimos o mesmo barco. Esse barco é a condição humana. Quando tudo cai por terra diante de forcas que nos ultrapassam, vemos que só mesmo essa condição é fundamental.
A pausa cósmica foi uma revelação. O céu parado, os pássaros escondidos, o colorido fixo do ar e a voz absoluta do silêncio me transmitiram uma felicidade assustadora, foram as palavras com que Deus disse a verdade: tudo o que somos é sermos irmãos.
Indústrias Criativas: Gerando Emprego, Renda e Inclusão Social
Conheça Eliane Lage, a primeira estrela do cinema brasileiro da Vera Cruz.
As indústrias criativas desempenham um papel crucial na geração de empregos e renda, além de oferecerem oportunidades de reinserção social para indivíduos em situação de risco. Através de cursos e capacitação em atividades criativas como música, arte, design e cinema, essas pessoas podem adquirir habilidades valiosas e desenvolver talentos, abrindo portas para novas carreiras. A economia criativa também fomenta o empreendedorismo, impulsionando microempresas e startups que promovem a inovação e a diversificação econômica.
Um exemplo notável é a Cedro Rosa, uma iniciativa que tem transformado a cena musical independente no Brasil e no mundo. Através do apoio a artistas emergentes, oferecendo plataformas de divulgação, produção e distribuição de música independente, a Cedro Rosa amplifica vozes que, muitas vezes, não encontrariam espaço nas estruturas tradicionais da indústria. Isso não apenas fortalece a diversidade cultural, mas também cria empregos diretos e indiretos, envolvendo desde músicos e produtores até equipes de marketing e tecnologia.
Música de artistas Cedro Rosa independentes do mundo, na playlist da Spotify.
No contexto social, programas como os da Cedro Rosa têm o potencial de transformar vidas. Ao fornecer treinamento e oportunidades na indústria da música, indivíduos marginalizados ganham não apenas habilidades técnicas, mas também confiança e um senso renovado de propósito. Isso não só contribui para a redução da desigualdade, mas também enriquece a sociedade ao celebrar a diversidade cultural e artística. Portanto, as indústrias criativas, representadas por iniciativas como a Cedro Rosa, desempenham um papel vital na construção de um futuro mais inclusivo, dinâmico e promissor.
Playlist de artistas Cedro Rosa, no Youtube.
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