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Foto do escritorJorgito Sapia

RICARDINHO POIS É.




Depois do sucesso do primeiro desfile do bloco carnavalesco que Ricardinho e alguns amigos criaram na Tijuca, na fronteira do Rio Comprido, ele passou a ser chamado de Ricardinho Pois é. Tem apelidos que pegam. Para o bem ou para o mal.


Pois é, também tem nomes de blocos que tem pegada, provocam risadas, cumplicidades, agregam, produzem a arte de estabelecer contatos.  Tem que imagina que bloco é uma esculhambação. Não sabem que, assim como o humor, bloco é coisa séria e, como tudo, bloco também tem regras. Talvez a regra principal tenha início na hora de criar um bloco carnavalesco. Por exemplo, no processo de criação, é de bom tom, prolongar as saideiras com os amigos e se deixar ficar de papo vadio, cheio de parangolé, no balcão de um botequim.


Pois é, lendo o livro do saudoso Roberto Paulino, Do Country Club à Mangueira, fiquei sabendo que o termo usado por Hélio Oiticica para designar suas capas nos tempos da Tropicália, foi uma criação do mestre Xangó da Mangueira. Parangolé, tem vários significados, dependendo do contexto pode ter o sentido de engodo; de malandragem; de conversa fiada e por aí vai.

Pois é, o jornalista Roberto Paulino foi o presidente mais jovem da Escola de Samba Mangueira. Em 1960, quando Xangô trilou o apito lá estava ele, Robertinho da Cerâmica, aos 24 anos de idade, no comando da Estação Primeira.  Lá na frente, seu Roberto, frequentador do Gatão, boteco do Leme, gostava de trocar uns parangolés com a turma que criou, na década de 1990, o Bloco Meu, Bem Volto Já!


Estava à toa na vida pensando nas histórias que o carnaval traz quando veio a minha memória uma reunião convocada pela Riotur para discutir, com os blocos da cidade, os rumos do carnaval de rua. Nos primeiros anos do século XXI, o poder público, depois de décadas de desconhecimento e silêncio, resolveu criar um canal de diálogo com o universo dos blocos que tinha crescido exponencialmente.


A reunião, realizada na sede da Riotur, foi presidida por uma jovem senhora trajando um tailleur vermelho cheguei, muito bem cortado e sapatos da mesma cor, salto 10. Discrição parecia ser o nome da jovem senhora. Na plateia, representantes de uma centena de blocos carnavalescos da cidade, curiosos por saber no que isso ia dar.


Aberto os trabalhos, após a exposição de motivos que convocaram a reunião e o que parecia ser uma sincera vontade de construir uma parceria fundada no diálogo, os convidados foram instados a expor suas críticas e sugestões para tentar resolver ou minimizar os problemas que blocos e cidade poderiam, juntos, equacionar. Só love!


O microfone passava de mão em mão e os falantes, apôs se apresentarem indicando o nome da agremiação representada iam expondo seus motivos e sugestões.


Falou Pedro Ernesto, presidente do Bola Preta, visivelmente contrariado com as tentativas de mudança do trajeto do Cordão criado em 1918.


O representante do Bloco das Carmelitas fez inúmeras ponderações sobre a história e o trajeto pelas ruas do bairro de Santa Teresa.  Descolado, depois de anos de luta com a Cúria Metropolitana que considerava o nome, o mito fundador e as fantasias do bloco, uma afronta à igreja católica e, claro, um desrespeito às freiras contemplativas de clausura monástica que habitam o convento, situado, por ironia do destino, na área de concentração do bloco.


Enfim, assim foram fazendo uso da palavra diversos foliões defendendo suas instituições e territórios, até que Ricardinho Pois é, pediu a palavra, segurou o microfone e começou uma exposição detalhada sobre os problemas que ele e diversos outros blocos da Tijuca e arredores tinham que enfrentar todo carnaval.  


Como a sala estava lotada vários foliões estavam em pé, encostados na parede lateral direita. Ricardinho Pois é, entre eles, de bermuda, chinelo de dedo, camiseta do bloco com desenho do ano na frente e o nome em caixa alta nos costas da camiseta.


- Por gentileza, falou a divina dama, qual o nome do bloco?

- Pois é, falou Ricardinho, os problemas se repetem todo ano.

- E o bloco? Voltou a perguntar a dama de vermelho.


Nesse momento, o representante do Suvaco de Cristo, olhou para trás, reconheceu Ricardinho, e não conseguiu deixar de pensar que o desfecho do diálogo era digno de ser assistido rezando.

Ricardinho Pois é, - contou depois - percebendo que estava sendo levado para um beco sem saída e, tímido como ele é, não tinha como evitar olhar no olho da distinta e declarar o nome da agremiação. Foi aí que lembrou do bloco de Campo Grande, Na pressão eu vou.


Sentindo o clima tenso o pessoal do Bloco Calma Amor, pediu um aparte, tentando descontrair o diálogo entre a autoridade e o Ricardinho Pois é. O pessoal do Coração das Meninas, bloco da Gamboa, tentou um atalho para suavizar a questão. Nessa altura da reunião, a anfitriã, tomada pela curiosidade se perguntava por que, esse rapaz, que faz contribuições tão valiosas, que se manifesta com respeito e delicadeza teimava em não dar nome aos bois. Chegou a pensar tratar-se de alguém sem representação que entrou na reunião para aproveitar o cafezinho e os docinhos que a Riotur tinha gentilmente oferecido aos participantes. Rapidamente descartou essa ideia.


Depois de ser indagado pela terceira vez e ter conseguido novamente escorregar no quiabo, o rapaz aproveitou para elencar sólidos argumentos que, sem dúvida melhorariam os desfiles da Tijuca profunda.  A turma sentada atrás do rapaz se entreolhava, cochichava baixo, sorria de forma contida. Atitude diferente da turma que estava na frente do moço e que não tinha ainda reconhecido a instituição nem quem a representava. Esse pessoal desejava que a dúvida fosse dirimida de imediato, mesmo porque, a maioria estava ficando com torcicolo de tanto olhar para atrás. Seu Luis do bloco Cachorro Cansado, estava ficando irritado.  


A galera do bloco Quem vai vai, quem não vai, não cagueta! Fazendo jus a instituição se manteve inalterada. O rapaz do Calma, calma sua piranha levantou a mão e ameaçou falar. Foi contido pelo representante do bloco do Pão de açúcar, cupincha do Ricardinho: Só o Cume interessa. O pessoal do Que bloco é esse?! Olhava pro Ricardinho e se perguntava Que Bloco é Esse?


Pois é, o próprio, com uma delicadeza de bater palmas, vendo que não tinha outro remédio que atender a indagação da representante da Riotur, assim que ela, do alto do seu salto, pediu pro rapaz indicar, sem mais delongas, o nome da agremiação que representava ouviu Ricardinho perder a timidez.


-Ricardinho Pois é falou - Com todo respeito...


- E a senhora, -Esse é nome do bloco? Com todo respeito? Com todo respeito?! Repetiu.

- Não, minha senhora, com todo respeito e insistiu no “não minha senhora”, pronunciando cada sílaba com um sorriso de satisfação que prenunciava o clímax, Pois é, finalmente falou:


  - Se me der, eu como!


 


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