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Foto do escritorEleonora Duvivier

Rob Finn, lembrança de Liberdade


Rob Finn

Um dia, quando meu filho, que estava preparando um jantar com os vários amigos que vêm sempre visitá-lo, me chamou da cozinha, anunciando uma surpresa pra mim, fui encontrá-lo, e dentre os jovens animados que vi, Rob Finn se destacou e nos abraçamos, na alegria de um reencontro que dispensava palavras. Naquele cara atlético, de olhos grandes e escuros, reconheci o menino que há mais de vinte anos fora o melhor amigo de Chris (meu filho) quando morávamos na cidade mais careta do país.


Rob foi especial pra mim naquela época. Lembro-me da primeira vez em que fui buscá-lo em sua casa para passar a tarde brincando com Chris. Os dois, que não tinham mais de onze anos, ainda usavam calça curta. mas Quando Chris me apresentou ao amigo enquanto eu manobrava o carro, olhei pra trás, onde estavam sentados lado a lado, e no rosto sorridente que vi, notei logo os dentinhos caninos se sobressaindo sobre os outros, “You have vampire teeth, how cute! (Voce tem dentes de vampiro, que fofo) nice to meet you!”, falei, tocando os seus joelhinhos de leve`a guisa de uma saudação. Rob, com o mesmo sorriso, respondeu descontraído, “Nice to meet you!”.

Notei uma expressão de censura no rosto de Chris que não pude entender. De fato, na segunda vez em que fomos buscar Rob, meu filho me disse, “Mãe, não fica “tocando” no meu amigo! ele vai pensar que você quer fazer sexo com ele!”.


Entre a surpresa e vontade de rir, achei o que ouvi tamanho exagero que dei também um tom exagerado ao que disse, “ Voce acha possível que uma criança da idade dele possa pensar que a mãe do amigo quer sexo com ele? Pera lá!”


Chris não falou nada e eu continuei a ser carinhosa com Robert, como era no Brasil com as crianças de quem gostava. Chris se lembrava disso e resolveu relaxar. Rob era seu único amigo que parecia totalmente `a vontade com adultos, e eu achava super fofo ouvir a sua vozinha fina cada vez que me encontrava, “Hi Mrs. Dodds!”


Ele era bom em qualquer esporte, e junto com Chris e outros dois garotos viviam entrando em campeonatos de snowboard através do país. Um dia, quando fui buscar Pat, um desses dois, convidaram-me a entrar. Pat ainda não estava pronto, e enquanto eu falava com sua mãe, alguns dos seus irmãos se aproximaram. Durante aquela troca de assuntos vazios entre ela e eu, um pequeno anjo aparece de repente, e, bem baixinho, fica ali parado, observando-nos com olhos azuis enormes e cintilantes no rosto rosado cheio de sardas, sob cabelos tão louros que prateados.


Antes que sua mãe me dissesse quem era, não resisti afagar aquela cabecinha que parecia um raio de luz, “Este é John, o mais moço, tem cinco anos” ela informou, enquanto o menino enrubesceu e fazendo uma expressão furiosa e se esquivou. Não por sua timidez, mas pela indignação que expressou, não pude deixar de acha-lo selvagem. “ It’s all right, John, behave! (tudo bem John, comporte-se!)” a mãe lhe disse entre risos histéricos como se compreendesse a sua reação e lhe pedisse para ter paciência com a estrangeira que tinha sido "indecente" com ele.


O garotinho ainda assim se afastou, e ela não conseguia conter os seus risinhos nervosos enquanto olhava para mim.


A ficha caiu. Lembrei que minha filha, quando tinha sete anos, chegou do colégio uma vez e me disse toda orgulhosa, “Mãe, hoje eu aprendi que cada um de nós tem uma bolha invisível `a sua volta e a gente não pode pisar dentro dela e chegar muito perto da pessoa pra respeitar essa bolha da privacidade!” O que??? Devo aqui dizer que isso foi muito antes da covid, e pensei que ela estava brincando, pois no Brasil e nas culturas Latinas que conheço, não se traça limites imaginários `a volta de ninguém. Considerei a fúria do irmãozinho de Pat e o nervosismo de sua mãe, “Que gente esquisita”, pensei, “Será que tem medo fóbico de germes ou enxergam sexo em qualquer contacto físico?”


No final, as duas coisas se misturam. Germes demonizam o contacto físico, e o puritanismo em relação ao contacto físico ajuda a ver nele a proliferação de germes. Com facilidade, este se torna, no ponto de vista de uma cultura super esterilizada, duplamente indecente. O jeito era mesmo eu aprender a “me comportar”. Afinal, já diz a expressão “Quando em Roma, aja como os romanos”. Mas em relação a Rob, eu podia ser espontânea. Além de descontraído, ele era o único a me oferecer ajuda para arrumar a bagunça em nossa casa depois que Chris tinha brincado com ele e os outros dois.


Quando decidi aprender Snowboard já com quarenta e três anos, eu ia me aventurar na única montanha perto da pequena cidade em que morávamos, na maior vergonha de envergonhar Chris, pois além de eu ser muito mais velha do que a garotada, meu desempenho em cima de uma prancha era patético em relação ao deles. Procurava ser discreta e nem chegar perto das pistas de profissionais super íngremes por onde eles ziguezagueavam. Mas uma vez, sob a maior nevasca, não houve jeito de evitar dar de cara com o grupinho de Chris e ele próprio na fila do “ski lift”. Cada um deles olhou para uma direção diferente para fingir que não me viram. Rob, ao contrário, me encarou e disse em plena nevasca, “Hi Mrs. Dodds!”


Que educação impecável! Como podia ele agir tão diferente dos outros? Seria porque seus pais, já tendo se divorciado e casado novamente, deviam ter uma mente mais aberta? Ou por ser o pai dono de um bar boêmio, aliás o único da cidade, eles se tornavam mais descontraídos e livres? Ou seria essa liberdade um resultado do próprio temperamento de Rob? O fato é que além da maneira com que me tratava, o menino tinha personalidade e autoconfiança, e só mesmo com autoconfiança se pode ser desarmado e aceitar um carinho inocente sem preconceito.


Os Estados Unidos é um país que tem orgulho em se considerar exemplo de liberdade. Mas a cultura Americana se apoia em regras que as pessoas sem pensar obedecem pra tudo. Regras de caminhar na calçada no lado certo; não parar no meio do caminho pra conversar com algum conhecido que porventura encontramos; não olhar no rosto de quem não se conhece; não beber álcool na rua nem que seja simplesmente na calçada do bar em que se entrou, e a importante regra, mesmo que inexplícita, de respeitar a “bolha invisível”!


Quando minha filha falou sobre essa bolha, sua irmã mais velha que já era professora do jardim de infância em uma das escolas locais, imediatamente adicionou: “Por isso me disseram que eu nem corresponda e nem afaste qualquer criança que se mostre fisicamente carinhosa comigo, pois se eu lhe corresponder, os pais podem me processar por abuso “sexual” e se eu a afastar, processam por violência.” Foi difícil ouvir isso pra mim, sem me perguntar como se consegue viver nessa defensiva crônica sem os efeitos colaterais de uma desconfiança e tensão constantes? Talvez seja essa a atitude necessária para que os Estados Unidos, como mamãe costumava dizer, se ache a polícia do mundo.


Ainda assim, gosto daqui. Mas para mim, liberdade é poder ser desarmado. Poder receber carinho sem ter que ver nele perversão. Liberdade é não precisar imaginar germes no azul do ar; poder notar charme nos caninos de um menino sem fazer ele ficar se torcendo de vergonha. Liberdade é ignorar regras cujo esquecimento é inofensivo e ser espontâneo; poder beijar os pezinhos de uma criança como eu beijava os dos meus filhos, e não precisar que eles digam, como me disse uma vez minha filha com não mais de cinco anos, “Mom, be careful, my feet have germs! (Mãe, toma cuidado, meus pés têm germes!)

Quando reencontrei na cozinha de minha casa o rapaz alto que Rob se tornou, fiz com que ele e os outros todos rissem ao lhe perguntar:

“How are your little vampire’s teeth? (como vão os teus dentinhos de vampiro?)”

 

Música, Cultura, Economia Criativa


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