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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Sherlock Holmes e Abel Ferreira, do Palmeiras, meus personagens da Bienal Internacional do Livro






Semana passada publiquei aqui um texto do meu livro de crônicas Fala, Botequim! no qual eu brinco comigo mesmo sobre as vicissitudes de um escriba desconhecido lançado livro em uma bienal. A republicação dessa gozação, eivada de passagens frustrantemente pândegas, se “justificou” porque justo na quinta-feira passada eu estaria lançando um livro na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.


Confesso que tenho um fraco por esses tipos de eventos. Lançando livro participei de uma outra bienal, em Belo Horizonte. Não vendi nenhum livro, mas curti muito a festa. Palestras, uma camiseta homenageando um dos meus ídolos, Mário Quintana e um trailer da Geneal, a delícia de hot-dog dos meus tempos de jovem frequentador do Maracanã. De cara, comi três. Independentemente de ter livros no evento eu frequentava as bienais. Em São Paulo fui algumas vezes naquela que rolava no Ibirapuera. Certa vez vi o Plínio Marcos literalmente lançando um livro. Ele estava num corredor jogando seu livro para o alto. Lembro de um casal que se aproximou e a senhora depois de algum tempo de observação, mandou o verbo: "Estou conhecendo você da televisão. Você não trabalhou na novela Beto Rockfeller?". Plínio Marcos com um sorriso tíbio e com alguma decepção estampada na face que não conseguiu disfarçar, confirmou que era ele mesmo. O personagem era o mecânico Vitório, amigo do Beto (Luiz Gustavo). Mas Plínio Marcos é muito mais que um personagem-escada de uma telenovela, né não? Mesmo com toda a importância que teve a novela de Bráulio Pedroso.


Naquela minha primeira bienal em que fui lançar livro, a tal que fui salvo por uns amigos, eu já comecei a compreender que uma bienal ou uma feira de livros não é um lugar ideal para se vender livros. Pelo menos para um autor desconhecido. É lugar para se deixar absorver e se deixar levar pela atmosfera reinante. Por aquele comércio dos sonhos. E não me desculpo com aquela minoria que cultua armas e despreza livros. Fazer o que? Então lá fui eu para o lançamento do meu livro de contos Chico Buarque no olho mágico a convite da editora Chiado Books.


O título desse texto diz respeito ao que mais me encantou na Bienal Internacional, mas muitas coisas me agradaram no evento. A começar pela organização. Cheguei no Terminal do Tietê e lá havia uma linha de ônibus gratuito, levando direto ao Expo Center Norte, onde acontecia a bienal. Show!


O estande do Grupo Editorial Atlântico, ao qual está ligada a plataforma Chiado Books, não era gigantesco, mas confortável. O pessoal da editora muito simpático e participativo. Mas o público continua com a mesma má vontade com os autores desconhecidos ou que não sejam celebridades nas redes sociais. Perguntavam se era uma biografia do Chico. Outros folheavam o livro. Uns sentavam para conversar (o editor da Criativos colocou uma foto semana passada). O pessoal do estande me disse que havia uma procura legal. Só vou saber quando for informado sobre direitos autorais. Não autografei nenhum livro. E nesse caso não me chateio. Eu também não exigiria autógrafo de autor que não me diz nada.


Na hora do lanche conheci um menino fã de Sherlock Holmes. A mãe lhe comprara Um estudo em Vermelho. Conversamos e ele era muito interessado, do alto dos seus dez anos. Talvez menos. Falei de Maurice Leblanc, do personagem bandido, Arsene Lupin e do romance em que o francês coloca os dois frente a frente, Holmes e Lupin. Ele disse cheio de entusiasmo que vira o livro no estande.


Pouco depois perambulei pelas editoras e livrarias e comprei um livro que buscava: A República das Milícias, de Bruno Paes Manso. Até que, procurando a origem das repetidas explosões de aplausos cheguei ao auditório onde era entrevistado o Abel Ferreira, técnico do Palmeiras. Ele lançara o livro Cabeça Fria, Coração Quente. Entre as várias respostas instigantes e dignas de reflexão, uma observação se destacou: Se os torcedores dos times de futebol, e isso eu digo aos torcedores de todos os times, tivessem a mesma disposição e força para cobrar de setores responsáveis pela sociedade, como cobram de jogadores, de técnicos e das direções dos clubes, hoje estaríamos vivendo um momento muito melhor. Não coloquei aspas pois o texto é a essência do que ele disse. Talvez as palavras não sejam exatamente as mesmas desse português que admiro já de algum tempo. Pena ele não ser o técnico do Botafogo.


 

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