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SOB VIGILÂNCIA

As esquisitices do Cris começaram cedo. Sempre foi a criança diferente, com medos e desconfianças que fugiam à média geral, que quase toda criança tem e que leva pra vida adulta.


Não temia ratos, insetos, larvas ou esses pequenos monstros que assombram o senso comum. Ele tinha mania de perseguição. Tinha certeza de que o mundo o estava observando o tempo todo. Não era de todo invenção.


Baixinho, era o primeiro da fila na escola, que se formava todos os dias antes da entrada pra cantar o hino nacional e hastear a bandeira, em tempos de governosmilitares. Bom aluno, sentava na primeira fila, com a turma toda atrás de si, em posição de ver todos os seus movimentos, que nem eram tão interessantes a ponto de despertar a atenção, mas eram inercialmente observados em função da posição.


Ficou adolescente, cresceu um pouco mais, porém não o suficiente pra deixar de ser dos menores, em estatura, nas turmas em que estudou. A ditadura acabou e com ela a obrigatoriedade de formatura matinal. Deixou de ser visto por todos pelas costas.


Continuou sendo bom aluno, o que ainda o punha, mesmo involuntariamente, em posição de destaque. E numa geração em que todos eram normalmente alguns centímetros mais altos que a geração anterior, sua baixa estatura também era digna de algum destaque, justificava certa surpresa e, claro, observação.


Cursou o ensino médio numa escola de grande reputação, onde ingressou graças às suas ótimas performances em todas as disciplinas do ciclo fundamental. Talvez não contasse com o fato de, vindo da classe média baixa do subúrbio, chamar muito à atenção dos colegas por sua forma de andar, vestir, falar e muito mais ainda pelo fato de chegar à escola caminhando, depois de uma relativamente exaustiva viagem de ônibus ou metrô.


A maior parte dos colegas, se não vinha em transporte escolar seguro, era levada à escola em carros de luxo conduzidos por pai, mãe ou chofer.

Ser considerado exótico só fez, obviamente, aumentar a curiosidade de todos sobre o adolescente e tornar ainda mais gritante a sua própria cisma com a permanente vigilância que o mundo parecia exercer sobre ele.


Não foram anos fáceis. O desempenho escolar não chegou a ser afetado, mas pessoalmente, internamente, um conflito muito estranho se passava. Não sabia se era admirado, odiado ou apenas observado como um tipo de animal exótico naquele meio.


Teve algumas namoradinhas, foi sempre um bom menino, desconfiado, mas sociável e simpático, sem necessariamente andar nos grupos que se formam naturalmente quando há uma concentração de jovens. Não era rechaçado pelos grupos, mas não se aproximava de nenhum em especial. Bom de esportes, gostavam de tê-lo nos times de futebol, mas ele nem sempre aceitava. Preferia ir mais cedo pra casa,quando podia.


Chegou o tempo da faculdade. Entrou sem muita dificuldade numa grande universidade federal e a sensação de ser observado permaneceu. Vieram as experiências da vida adulta, algumas quase alcançadas antes, ainda no nível médio, mas reprimidas pela formação conservadora e pela sensação recorrente de ser observado por todos os lados, como uma presença estranha, se não indesejada, ao menos surpreendente. Fez sexo, usou drogas leves, perdeu noites de sono.


Ter se tornado médico ao final da jornada universitária não foi a parte mais difícil. Complicado mesmo foi saber que não era só uma sensação, aquela de ser sempre observado. Ou talvez fosse. Hoje lida bem com a efetiva vigilância exercida pela dispersão indiscriminada de câmeras de segurança, reconhecimento facial, trânsito, portarias de prédios. Também não se intimida com os onipresentes celulares e redes sociais.


Na raiz de tudo, o fato de que aprendeu a ler muito cedo, incentivado pelos pais ainda sem entender direito os textos, por falta de vocabulário e experiência.


Ter trocado as fábulas e historinhas - que toda criança lê - por 1984, do Orwell, é que não ajudou em nada. Ou ajudou.

Vai saber...

 

Rio de Janeiro, setembro de 2024.


 

Cedro Rosa Digital: Revolucionando o Mercado Global de Música com Tecnologia de Ponta

Aproveitando IA e Blockchain para a Certificação Global de Música


A Cedro Rosa Digital está na vanguarda da transformação do mercado internacional de música, aproveitando tecnologias avançadas como inteligência artificial (IA) e blockchain. Em colaboração com agências de desenvolvimento e centros tecnológicos líderes, como a EMBRAPII, o SEBRAE, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba e a Universidade Federal de Campina Grande, a Cedro Rosa está inovando na certificação de obras e gravações musicais. Esse esforço garante que essas obras sejam devidamente registradas junto às Associações Coletivas de Direitos Autorais em todo o mundo, incluindo o ECAD no Brasil, a SACEM na Europa e a ASCAP nos Estados Unidos.


IA como Aliada de Criadores e Distribuidores

A inteligência artificial está se tornando uma ferramenta indispensável tanto para criadores quanto para usuários de música. Através da IA, o reconhecimento de obras musicais é significativamente aprimorado, permitindo que as sociedades arrecadadoras e distribuidoras acessem informações mais precisas. Isso resulta em uma distribuição mais eficiente de royalties e em uma melhor proteção dos direitos dos criadores em escala global.


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A Cedro Rosa Digital também está fazendo avanços significativos na internacionalização da música brasileira, com o apoio da APEX, a agência de promoção de exportações e investimentos do Brasil. A empresa está participando ativamente de feiras e conferências internacionais, como a GITEX 2024, que ocorrerá em Dubai em outubro. Esses esforços são cruciais para destacar a música brasileira no cenário global e expandir seu alcance.


Uma Indústria Bilionária com Impacto Global

A indústria da música gera bilhões de dólares e cria milhões de empregos em todo o mundo. A abordagem inovadora da Cedro Rosa Digital, que combina tecnologia e parcerias globais, está desempenhando um papel vital para garantir que a indústria continue a crescer de forma sustentável, ao mesmo tempo em que protege os direitos dos criadores e promove o intercâmbio cultural internacional.

 

1 comentário

1 comentario


jctalker
há 5 dias

Gostei muito do texto. Tema atualíssimo, a vigilância. Tradicionalmente se vigiava o estranho, o outro. Agora vigiamo-nos mutuamente. Teremos todos, e cada um, nós tornado o outro?

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