SOBRE O CHICO
Eu e mais um monte de brasileiros - não tantos quanto seria o ideal, mas um número expressivo ainda assim - tivemos desde o início do segundo semestre do ano passado e seguimos tendo, até maio pelo menos, a oportunidade de ver Chico Buarque no palco, cantando a obra que encanta quem gosta de boa música, crônicas, história, crítica social e de costumes, romances, alegria e sofrimento com poesia desde meados dos anos 60. Desta vez com a companhia luxuosíssima da Monica Salmaso. Sem falar no naipe de grandes músicos que o acompanham sempre.
Não lembro mais, aos cinquenta e tantos anos de idade, quando comecei a me encantar com a obra do Chico Buarque. Provavelmente após ouvir “A Banda”, criança pequena ainda. Mas lembro que a coisa bateu forte no final dos anos 70. Vivíamos a "abertura" e eu o final da infância também, quando li, por volta de 79-80, aquela clássica edição da Ópera do Malandro, lançada pelo Círculo do Livro. Sempre fui um leitor meio fanático. Sabia que aquilo não cabia direito nos meus 11-12 anos, mas era bom demais pra eu não ler. Era bom demais pra eu não usar as sinapses e fazer o link entre aquela história e a história do Brasil dos anos 40, com o Rio capital e a Lapa capital da boemia e das falcatruas que envolviam putas, contrabandistas, cafetões, políticos. Tinha lido sobre em livros de história – também ainda não indicados pras séries que eu cursava, mas eu era curioso mesmo - e era a minha primeira ficção com referências a uma realidade brasileira não muito distante, longe do oitocentismo reinante nos livros da escola.
Coincidência das coincidências, um antigo mercado “Rainha”, na Pavuna, aquele bairro hoje mais lembrado por ser a ponta do metrô, mas que já foi o da feirinha da saudosa Jovelina Pérola Negra, tinha um gerente que gostava de música no salão. Eu sempre passava por lá depois da aula pra comprar alguma coisa que minha mãe demandasse. E foi entre pacotes de arroz, feijão, farinha de trigo, entre um corredor e outro, que me dei conta de que tocava Chico Buarque o tempo todo no mercado. O gerente tinha uma limitadíssima discoteca de duas fitas cassete: “A Ópera do Malandro” e “Meus Caros Amigos”. Passei a ir diariamente ao mercado. Os seguranças e caixas estranhavam, perguntavam coisas, mas me deixavam ficar. Continuei indo seguidamente até praticamente decorar todas as letras.
Minha outra grande fonte de Chico Buarque foi um grande amigo, o Luis Cláudio Garcia. Ele aprendia as músicas no violão (verdade que ele gostava mais de Caetano e Gonzaguinha, gênios também, claro) e tocava pra eu ouvir. Eu não conseguia acompanhar, mas decorava as letras. Em 82, quando saiu o “Almanaque”, aprendi tudo com ele e já conseguia tocar algumas. Em 84, comprei o disco de capa vermelha, o que tem “Vai Passar”. De lá pra cá virou quase vício.
Li todos os livros, ouvi todos os discos, vi todos programas de tv. Hoje tenho tudo em casa. Obra completa.
A consagração de Chico com o Prêmio Camões, no início do governo que acabou de acabar (Aleluia!!!) foi um alento para brasileiros de todas as raças e credos e caras e times e origens. Sua obra é um dos maiores painéis da nossa história da segunda metade do século XX pra cá. Ritas, Carolinas, Januárias, Pedros, Renatas Marias e muitos outros personagens nos representam, mesmo que não tenhamos prestado a devida atenção. Estávamos todos vendo a banda passar, éramos todos fracos, desdentados e feios, éramos milhões a esperar o trem que já viria, trocamos em miúdos as nossas vidas. Perguntamos juntos “o que será?”, calamo-nos todos ante a certeza de que melhor seria ser filho da outra. Buarqueamo-nos voluntária e involuntariamente.
Ninguém foi mais mulher, mais sofrido, mais negro, mais brasileiro, mais rico e mais pobre numa obra só.
Obrigado, Chico. Você é a nossa certeza de que temos jeito!
Obrigado por nos lembrar quem somos, nos descrever tão bem, nos ensinar poesia.
Afinal, hoje pode ser dia de visita e achamos que o moço até nem lavou a gente direito pra ficar apresentável, mas a gente lavou a alma no fim do ano com a volta de um Brasil em que nós e o Chico Buarque acreditamos. E ter assistido ao show (eu vi em janeiro, aqui no Rio) foi a coroação de uma alegria que começou em 30 de outubro.
O Brasil ainda precisa melhorar muito, sabemos. Mas o fato de termos Chico Buarque nos mantém dentro dos limites de uma civilidade possível, de uma arte comprometida com a história de seu povo, de um povo com vínculos históricos e sociológicos com o que há de melhor e pior na humanidade, mas capaz de se questionar, para o bem e para o mal. E de se reconhecer em cada questionamento.
Uma sociedade que ainda permite que um antigo moleque de Meriti, paradoxalmente baseado na igreja protestante e no samba, admire profundamente a obra do Chico.
Olê Olá!
Rio de Janeiro, abril de 2023
Brasileiro da Gema, de Tuninho Galante e Marceu Vieira, com videoarte de Gabriel Klabin
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