Sobre voos, frangos, Ícaro e domingos

Eu tinha uns 5, talvez 6 anos, e lembro que todos os domingos, lá em casa, o almoço era frango. Minha mãe, Dona Raymunda, sempre separava as melhores partes para o meu padrasto, Seu Cardozo.
Ele era um homem branco, de olhos azuis e orelhas grandes, características acentuadas pela idade avançada. Ex-policial militar do antigo Distrito Federal da Guanabara, casou-se com minha mãe e sustentou nossa família enquanto viveu. Ainda recordo o suplício de sua morte, causada por um enfisema pulmonar, resultado de muitos maços de Minister, Pall Mall, Galaxy e, ocasionalmente, Hollywood, que costumavam ficar sobre o armário do quarto.
Lembro-me de, em uma travessura infantil, ter experimentado alguns cigarros. A fumaça invadiu meus pulmões, provocando uma tosse horrível.
Os frangos de domingo eram variados: ensopados, cozidos, assados, fritos. As melhores partes iam para o prato de Seu Cardozo e de Dona Raymunda. Para mim, restavam as asas, drumetes, pescoço, moelas e os pés. Aliás, eu adorava pés de galinha. Desde 1990, quando meu Ori foi entregue a Oxóssi no Centro Espírita de Umbanda Xangô Caô do Oriente, nunca mais os comi. Mas ainda guardo na memória afetiva a textura macia e o sabor inconfundível, que hoje sei ser rico em colágeno.
De vez em quando, minha mãe me deixava provar uma sobrecoxa ou alguns fiapos do peito do frango. Para me convencer, sempre dizia:
— Come asas, que um dia você vai voar!
Certa vez, enquanto folheava o saboroso O Livro dos Domingos de Preguiça de Calvin e Haroldo, fui transportado à infância. Calvin, com sua eterna curiosidade e fantasia, sempre despertou em mim o menino sonhador que fui. Em uma das tirinhas, ele conseguiu me explicar, por meio de uma discussão com Suzy, o sentimento que tive pela primeira menina por quem me apaixonei, ainda na Rua Américo Diamantino Lopes, em Nilópolis, nos anos 1970.
Me deparei com uma tirinha que me levou de volta ao frango de domingo, à janela da casa onde morávamos na Rua Manoel Duarte, em Mesquita, e ao lençol que peguei escondido da minha mãe. Lembro-me de amarrá-lo no pescoço como se fosse uma capa de super-herói, acreditando nas palavras dela de que um dia eu poderia voar. Afinal, nada mais justo para quem comia asas de frango todo domingo.
Subi na janela, impulsionado pela fé infantil, e pulei. Os segundos que antecederam a queda trouxeram uma breve ilusão de flutuação, mas logo caí de cara no chão.
Minha mãe veio correndo, guiada pelo som do meu choro. Antes que ela me alcançasse, experimentei aquele desconforto único de quem já sentiu um impacto no nariz – seja em uma pelada, em uma briga de rua, no handebol, no vôlei ou até no caixote da praia. A ardência, quem já viveu, nunca esquece.
— Marcinho, por que você fez isso? – perguntou ela, preocupada.
— Porque você disse que se eu comesse asas de frango, eu ia voar – respondi entre soluços.
O colo carinhoso e acolhedor de Dona Raymunda logo acalmou meu choro. O que restou foram arranhões no nariz e nos lábios, marcas da queda.
O mito de Ícaro, aquele que teve a chance de voar com as asas criadas por seu pai, Dédalo, também paira sobre essa memória. Ícaro sucumbiu à ambição, aproximando-se demais do sol, o que derreteu a cera que unia suas asas. Sua queda no rio foi fatal.
Todos nós desejamos voar. Como Ícaro, somos seduzidos pelo poder e pela liberdade que o voo simboliza. Ele traz consigo um encantamento inegável.
Hoje, prestes a completar 57 anos. Posso dizer ao menino de 5 ou 6 anos que ainda habita em mim: sim, é possível voar. E eu voei. Contemplei paisagens maravilhosas, atravessei tempestades que trouxeram turbulências, fiz pousos arriscados e arremeti diversas vezes.
Vivi panes secas, problemas nos motores, pousos de barriga – experiências que só um aquariano entende.
Naqueles instantes antes da queda no Egeu, Ícaro foi livre, feliz e privilegiado, pois vislumbrou a beleza estonteante da Terra.
Eu também fui, naquele salto da janela da casa onde morávamos.
O Brasil vive um momento de renascimento cultural, impulsionado pelo sucesso do cinema e da música popular.
O filme “Ainda Estou Aqui” conquistou resultados espetaculares, enquanto “O Auto da Compadecida 2” manteve o ótimo desempenho nas bilheterias. Na música, o impacto é igualmente impressionante: segundo Will Page, ex-CEO do Spotify, das 100 músicas mais tocadas no país, 99 são brasileiras, evidenciando a força e a originalidade da produção nacional. Em seu perfil no LinkedIn, Page elogiou os “executivos brasileiros como inspiradores”, citando entre eles Antonio Galante, fundador da Cedro Rosa Digital.
A Cedro Rosa Digital, fundada pelo produtor e compositor Antonio Galante, é uma plataforma global de certificação e distribuição musical que representa artistas de cinco continentes. Com foco na inovação, a empresa diversifica seu repertório diariamente, acolhendo criadores de todo o mundo e promovendo licenciamento justo para publicidade, cinema, jogos e outras mídias. Além disso, a Cedro Rosa permite que qualquer pessoa ouça músicas e playlists gratuitamente em sua plataforma.
Entre seus principais projetos, destaca-se o sistema CERTIFICA SOM, que utiliza tecnologias como blockchain e inteligência artificial para garantir a correta atribuição de créditos e o pagamento de direitos autorais em escala internacional. Essa iniciativa fortalece a transparência e a representatividade no mercado musical, beneficiando compositores, intérpretes e produtores.
No cinema, a Cedro Rosa lidera iniciativas que celebram a música brasileira. Entre os projetos mais notáveis estão “+40 Anos do Clube do Samba”, uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo, e a minissérie “História da Música Brasileira na Era das Gravações”, que destaca a rica trajetória musical do país. Essas produções geram empregos, movimentam a economia criativa e reforçam a presença do Brasil no cenário cultural global.
Com uma atuação sólida em feiras e simpósios internacionais, a Cedro Rosa também promove parcerias estratégicas com países como China, Dubai e Cuba, com o apoio da APEX. Essa presença global, aliada ao compromisso com a cultura e a tecnologia, faz da Cedro Rosa um exemplo de como a economia criativa pode ser um motor de desenvolvimento econômico e social.
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