Talita Abreu é ilustradora premiada e uma escritora, literalmente, fantástica
Nascida do Rio de Janeiro, Talita Abreu mudou-se muito pequena, e foi em Resende-RJ onde fixou residência, que transformou, o desenho e a escrita, artes que pratica desde criança, em uma profissão. Formada em artes visuais, pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia, Talita acredita que a educação é o principal caminho para transformar a sociedade. Talita é escritora e tem 6 livros lançados, todos ilustrados por ela mesma. Em seu trabalho freelancer realiza todos os tipos de encomendas, para pessoas ou para empresas. Desenvolvimento de personagens, ilustrações para livros e contos, mascotes e icons, ilustração editorial, capas, e o que mais o imaginário de seus cliente pede.Nas redes sociais Talita gosta de interagir com seus seguidores e tenta sempre lhes oferecer o máximo possível do seu universo ilustrado e de seus textos através de personagens repletas de cores e histórias.
CRIATIVOS! – A escritora e ilustradora despontou bem cedo, desde criança. Você teve influências dentro da família?
TALITA ABREU - Tive! Meu pai foi escritor, mais especificamente cronista e escrevia para dois jornais enquanto eu era criança. Também era um exímio desenhista, embora não desenhasse profissionalmente. Ele sempre me incentivou a criar minhas próprias histórias e minha mãe sempre me incentivou a escrever diários e cartas. Se expressar através da escrita sempre foi algo muito comum em casa e eu agradeço muito por isso.
CRIATIVOS! – Fora a família, quais foram suas influências nas artes?
TALITA ABREU - Na ilustração eu sempre admirei meus colegas e professores da ‘Quanta Academia’ onde estudei por anos em São Paulo. Estar lá com eles foi algo que abriu meu mundo e, mais especificamente, poder vê-los criando era ainda mais incrível do que somente observar o trabalho acabado. Gosto de muitas ilustradoras gringas que acompanho pelo Instagram, mas não ultrapassam as ilustradoras, os ilustradores brasileiros incríveis que temos. Na literatura, sem dúvida, Clarice Lispector, Anne Rice e Henry Miller foram minhas maiores influências sobre a forma que eu desejava dar à minha expressão escrita.
CRIATIVOS! – Fale sucintamente dos seis livros publicados até agora?
TALITA ABREU - Pedir que eu seja sucinta é o meu maior desafio, mas vamos lá..rs Tenho publicado um Artbook que havia esgotado, mas depois de anos acredito que em breve farei uma reimpressão dele. Um livro infantil intitulado “Histórias infantis para todos” que guarda com muito carinho a história de três protagonistas, Ana Céu, a menina que estava aprendendo a lidar com os momentos em que não está rodeada de pessoas, o monge Kazuaki e seu amigo o rato Sami e o menino Thomas que é surdo e ensina aos leitores um pouco da Língua Brasileira de Sinais enquanto conta sua história. Este está permanentemente esgotado. Possuo também duas histórias em quadrinhos, e aqui temos o meu xodó, “O presente de um demônio” que é um quadrinho que seleciona seus leitores. Enquanto alguns se afastam por conta do título, outros se aproximam pela curiosidade e levam como prêmio uma história para o coração. Costumo dizer que para essa história a gente precisa vir com a mente aberta e gostar muito de símbolos e histórias do oculto e estar pronto pra torcer pro casal lésbico mais fofo que você vai ver num quadrinho..rs A outra história em quadrinhos é o “Duas vidas de uma gata”, uma micro história que eu precisava tirar do meu peito e colocar no seu. Só lendo pra saber, mas se você gosta de gatos e de um romance atemporal, você vai se apaixonar.
Os livros de contos de terror ilustrados são meus bebês amados:
“Estranhos, mórbidos, macabros e grotescos” é um livro pra quem tem estômago forte e aguenta desde um terror suave psicológico, até um gore bem descrito. Em suma, se você gosta de Lovecraft e imagina como seria se ele fizesse um filme trash, corre e pega esse livro. O primeiro conto é suave pra introduzir o leitor, mas depois as coisas mudam de figura drasticamente.
“Histórias que ouvi depois da meia-noite” é meu segundo livro ilustrado de contos de terror e ele segue um formato diferente, em forma de relatos de pessoas que viveram situações bizarras, inacreditáveis, absurdas e aterrorizantes. Se alguém naquele livro encontrou um demônio, ele fez questão, por exemplo, de descrever o ritual com detalhes pra você reproduzir…, mas você não quer fazer isso, não é? rs
CRIATIVOS! – O quadrinho ‘Duas vidas de uma gata’ é autobiográfico (rs)?
TALITA ABREU - Hahahaha, pra decepção das pessoas que perguntam, não, não é. Nenhuma das minhas histórias é. E eu entendo que muitos escritores façam algum tipo de “terapia” se colocando como personagens principais dos seus livros, mas eu, particularmente, acho que isso quase sempre compromete o desempenho da história porque, dentre outras coisas, tornam-se muitos “zelosos” com o “personagem espelho” e o santificam de alguma maneira, afinal, ninguém quer se colocar como “mau caráter” ou exibir sua humanidade frágil em 350 página corridas.Comigo os personagens têm vida própria onde sua humanidade é realçada com defeitos e qualidades, escolhas erradas e impulsividades.Confesso, no entanto, que usei muitas referências visuais minhas para a personagem principal de “Duas vidas de uma gata”, então acabou que dividimos alguns aspectos físicos, mas nada além disso.
CRIATIVOS! – No livro Histórias que ouvi depois da meia noite ficamos sabendo que existem 54 demônios zombeteiros que perturbam nossa existência. Você já teve contato com algum deles?
TALITA ABREU - Sim! Tenho até saudade de alguns, mas em geral não recomendo a experiência. Rs
CRIATIVOS! - Sua alma inquieta é apaziguada quando está envolvida com o processo criativo. Você é uma artista totalmente intuitiva ou tem um método para criar?
TALITA ABREU - Como estudo muito desenho e dava aulas, então não tenho como fugir de ter um trabalho bem sistematizado em ilustração. Anatomia, perspectiva, teoria cromática, composição e outras várias coisas, tudo faz parte de critérios que sigo pra criar. Agora, na escrita eu preciso ser mais selvagem pra deixar que as histórias nasçam. Todo o resto resolvo com meu editor e revisores que eu particularmente acho que são anjos.
CRIATIVOS! - Você conquistou há pouco o Prêmio Akai Awards 2024 como melhor desenhista/quadrinista. Fale dessa premiação.
TALITA ABREU - A premiação Sul Fluminense de cultura Geek do Grupo Akai reuniu MUITOS talentos da nossa região que fizeram coisas incríveis Brasil a fora e conhecê-los ali foi um banho de inspiração pra mim. Vencer pela primeira vez um prêmio, também nomeada como quadrinista, foi uma vitória muito grande também no âmbito pessoal. Eu, sinceramente, me surpreendi com o prêmio, tanto que quando meu nome foi falado eu pensei “meu deus, o que eu faço agora? Eu não ensaiei nada pra esse resultado.” Mas deu tudo certo e eu pude dividir mais um momento lindo da vida com pessoas extraordinárias.
CRIATIVOS !- Algum projeto novo em vista?
TALITA ABREU - Só interrompi os trabalhos da nova publicação para responder a esta entrevista... rs. O novo livro vem como uma mistura de Artbook e uma pequena história com protagonismo feminino e muitas personagens. Se além de tudo você gosta ou se interessa por xadrez, vai ser com certeza uma adição bonita e inspiradora à prateleira
CRIATIVOS! – Pra terminar, gostaria de dar algum recado?
TALITA ABREU – Sim, gostaria de falar de duas coisas muito importantes: Apoiem artistas nacionais, mas mais importante, apoiem pessoas ao seu redor. Vamos tentar dissolver aquela frase que diz “seu amigo não será seu cliente”, e procure pessoas da sua região para trabalhos. Do mercadinho do seu bairro até a galera fazendo cultura perto de você, os bazares de roupa…tem um monte de gente ao seu redor travando batalhas duríssimas, e quando você joga o seu holofote sobre eles, muita coisa muda. A outra é: PAREM DE USAR Inteligência Artificial, seja para ilustrações ou para dublagem… é antiético e é roubo do trabalho de milhões de artistas para as mãos dos bilionários, porque ainda não temos a regulamentação adequada. Não seja essa pessoa. VALORIZEM ARTISTAS HUMANOS, VALORIZEM ARTISTAS VIVOS.
Um aviso sobre seres que habitam casas
“São três mulheres que podem estar habitando tua casa agora, neste exato momento. Uma obcecada pelo ar, outra pela água, a terceira pelo fogo. Elas vieram de um tempo em que o homem ainda não havia inventado as palavras como as conhecemos e tudo que elas sabem fazer é projetar um grunhido grotesco que advém de algum lugar profundo em suas gargantas. Elas moram embaixo das mesas e balcões das casas. Quando você apaga a luz de um cômodo e acende novamente, talvez consiga ver uma delas se movendo ali embaixo ou talvez ver seus olhos piscando por um segundo antes de desaparecerem”. (do livro Histórias que ouvi depois da meia-noite).
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