Um conto de Carnaval: Ah! Esse gengibre!
Era sábado de Carnaval e um pequeno grupo de foliões, certamente virados, passou cantando uma marchinha bem tradicional: Cabeleira do Zezé. Minha mente se fixou nos versos: “será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé, parece que é transviado, mas isso eu não sei se ele é”. Emergiu da mente as reportagens sobre Salmon Rushdi, que por causa de seus ‘Versos Satânicos’ foi condenado à morte por grupos religiosos extremistas e radicais. Pra sorte dele, o risco ficou na ameaça, mas o homem teve que fugir do seu país.
Os meus momentos de lucidez aconteciam quando eu bebia aquela fogosa batida de gengibre. Verdinha. Algo acionava não sei que parte do cérebro e vinha a viagem. Como no caso de um suposto atentado da Al Qaeda no Rio de Janeiro. Nesses momentos eu dava de escrever compulsivamente em guardanapos de papel. Depois o Rangel, nosso garçom amigo, recolhia e guardava. Certa vez disse que lançaria um livro-varal com minhas anotações.
Há algum tempo lera uma dessas teorias da conspiração, sobre uma suposta represália de grupos religiosos radicais à marchinha de João Roberto Kelly. A especulação me levou à uma falada concentração de membros da Al Qaeda na região da tríplice fronteira, em Foz do Iguaçu. Um amigo que reside em Foz me passou um e-mail garantindo ser real a presença dos seguidores de Bin Laden por lá. Disse ter feito amizade com um deles numa churrascaria. Esse amigo me alertou para uma suposta conexão entre esse tal grupo com um outro, infiltrado numa comunidade carioca. Os caras passariam know how em guerrilha para os soldados do tráfico em troca de abrigo e proteção, enquanto organizariam uma ação exemplar contra o “ocidente pecaminoso”. Ação dirigida, mais claramente, ao mundo católico. O ataque teria o simbolismo que teve o 11 de setembro para os americanos.
Esse meu amigo chegou a um grau de intimidade com seu interlocutor terrorista – não me perguntem como - que ficou sabendo da trama que previa a explosão da estátua do Cristo Redentor, as nossas ‘Torres Gêmeas’. E a ação deveria se dar em pleno Carnaval. No sábado. A intenção, obvia, era produzir um trauma de profundas consequências em nossa sociedade de base católica. “Uma sociedade que brinca e banaliza as referências sagradas de outras civilizações. Uma sociedade prepotente que parece querer promover a brincadeira como filosofia da existência”. A frase segundo meu amigo, foi proferida, sem tirar nem pôr, pelo terrorista.
Nesse ponto eu parei, coloquei o guardanapo sob o copo e pedi ao Rangel, uma cerveja e outra dose da batida de gengibre que ele trazia do Rei das Batidas, especialmente para mim. Como eu disse lá em cima, era Carnaval. Sábado. Nesse momento adentra ao bar o jornalista e compositor Marceu Vieira. Senta à minha mesa e vai logo me mostrando uma bela letra que acabara de parir. Pediu um gengibre também. Comecei a ler os versos em voz alta: ‘Rogo a São Sebastião...’ Rangel trouxe a bebida e ficou ali, embevecido, apreciando o Marceu sorver quase a metade da dose de olhos fechados, curtindo. Em seguida o garçom comentou solene: “esse biricutico de gengibre é brasileiro da gema”.
De repete ouvimos um ruidoso estrondo. Uma explosão. Eu disse: “É o atentado ao Cristo, às torres Gêmeas”. Marceu quis saber quantos gengibres eu já tinha bebido. Mesmo assim o convenci a irmos às escadarias do Teatro Municipal para ver o que ocorria e até quem sabe, fugirmos para Paquetá. O estrondo continuou e logo, sons de clarins se juntaram àquele turbilhão sonoro e ouvimos os primeiros versos cantados por um coral de milhares de foliões. Era a marcha que é um abre alas no sábado de Carnaval carioca. Caminhei um pedaço da Rio Branco acima e constatei que o Redentor ainda estava inteiro, impávido, sobre o Corcovado. Procurei pelo Marceu e o vi tomando um chopp na mesa de outro bar com o Celso de Castro Barbosa. Falavam de um outro Castro. Parecia cena de documentário. Fui pro Bola feliz e cantando:
“Quem não chora não mama
Segura meu bem a chupeta
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta” (Marcha do Cordão do Bola Preta/Nelson Barbosa - Vicente Paiva)
Música.
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Muito Samba!
Quando foi gravado o primeiro samba no Brasil?
O primeiro samba gravado no Brasil foi "Pelo Telefone", de Donga e Mauro de Almeida, gravado em 1916.
O sambista e produtor Didu Nogueira é o responsável por todo o acervo do Donga, incluindo fotos, letras e partituras.
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