10 de mai. de 2022

Um Lapso de Tempo

O salão de chá estava repleto de gente bonita, digna e distinta.

As mesas arrumadas impecavelmente.

Os garçons, como sempre, praticando um serviço nota 10.

Da cozinha vinham as mais irresistíveis iguarias.

Do bar, coquetéis que eram verdadeiros néctares dos deuses.

O ano, o mês, o dia ou a hora são desconhecidos e indefinidos.

Embora procurasse manter o máximo de discrição, até pela mesa escolhida, bem no canto mais escuro, um casal se destacava no ambiente.

Ele, muito negro, muito alto, muito esguio.

Ela, muito branca, muito pálida, muito miúda.

A elegância pairava como perfume no ar que envolvia os dois.

O clima de romance era tão forte que quase se podia tocá-lo.

As palavras, ditas como que num sussurro, podiam ser adivinhadas pelas reações - hora expressas em sorrisos de felicidade e paixão incontida, hora em rubores impossíveis de esconder.

De repente, o espaço é preenchido pela música de um quarteto de cordas, o convite para uma dança é inevitável e o casal esquece de toda e qualquer intenção de se manter discreto.

A valsa os guia por rodopios que contagiam todas as pessoas do lugar.

E, do nada, o salão transforma-se numa imensa pista de dança, com movimentos coordenados, como se fossem frutos de ensaios seculares.

Tudo em volta é pura magia.

Inexplicavelmente, um grito de gol corta o ar e, sem como, nem quê, nem porquê, numa das paredes um imenso telão de altíssima definição ganha destaque e transforma o ambiente em comemoração frenética.

Celulares surgem aos borbotões e as selfies se multiplicam e o lugar já não é mais o mesmo, virando bloco de carnaval a comemorar a vitória de ninguém sabe quem.

E o cordão ganha as ruas, entre abraços e beijos, deixando ali apenas aquele casal, sem compreender direito o que acabara de acontecer.

Até a próxima esquina.

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