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Victor Loureiro é um poeta que não resiste à poesia cadenciada do pandeiro



 

Victor Loureiro é músico, poeta, professor, biólogo, mestre em Educação em Ciência, pela UFRRJ e trabalha na rede Estadual de Ensino. Já atuou como gestor público nas áreas de cultura e meio ambiente nas cidades de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu, onde implantou e dirigiu o Observatório Municipal. Em sua juventude, participou ativamente de movimentos literários na Baixada Fluminense onde começou sua trajetória como poeta. Publicou os livros O outro e o outro, com Eucanaã Ferraz; Armazém do Absurdo, pela editora Scortecci; Literal, da editora Sete Letras; Perímetro Humano, da editora Língua Geral e O homem que via a música, pela editora Sete Letras. Vários de seus poemas hoje habitam coletâneas nacionais. Além disso, colaborou com o jornal Correio da Lavoura, onde assinou, por vários anos, a coluna “Utilidade Lúdica”, exercitando sua verve de cronista. Atualmente divide-se entre a sala de aula e a música: as platinelas de seu pandeiro tem reverberado nas rodas de choro e de samba na cidade do Rio de Janeiro. Aos sábados toca à tarde num restaurante na Praça Serzedelo Corrêa, em Copacabana. A poesia segue ao seu lado, acompanhando-o, temperando suas aulas, sua música, sua vida. E como ele diz: “Não é à toa que poesia e pandeiro começam com a letra P, consoante surda que une os lábios para lançar, ao mundo, o ritmo, a pausa, o som cadenciado capaz de fazer sonhar e dançar”.

 

CRIATIVOS! – Você é pandeirista em um grupo de Choro e Samba. Quem nasceu primeiro, o poeta ou o músico?

VICTOR LOUREIRO - Quando era criança fiz muitas viagens de trem entre Nova Iguaçu e Paracambi, onde nasci. Eu e meu pai costumávamos sentar frente a frente no banco de madeira do trem para batucar. Ele marcava e eu fazia os contratempos. Os trens sempre avariados, paravam, amiúde, em frente a um campo de várzea pelos lados de Queimados e nós ficávamos entre uma espiada no jogo e um samba. Eu tinha uns oito anos de idade. Mais cedo ainda, aos sete anos, funcionava a rádio Solimões, na Travessa Rosinda Martins, e meu pai, encantado pelo ritmo que eu já tinha quando cantava os sucessos da época, me convidou para fazer um teste na rádio me puxando para a porta da emissora. Tive medo e não quis entrar. Quando lembro desses episódios, tenho certeza de que o músico surgiu primeiro.  Mas, música e poesia são ritmo, têm "asa ritmada"... ou seja, a música pode ter se manifestado primeiro, mas a poesia já pulsava em cada som tirado numa caixa de fósforo ou num banco de trem.


CRIATIVOS!  – O poeta Jorge Cardozo em entrevista aqui na Criativos, definiu você como ‘Artífice’. Você concorda com a definição? Se defina como poeta.

VICTOR LOUREIRO - Jorge Cardozo foi muito generoso comigo e, por isso, aproveito para agradecer a lembrança. De certa maneira, concordo com ele, porque a definição de artífice representa não só a minha poesia, mas a poesia produzida na década de 80. Refiro-me a esse período porque foi nessa década que estreei como poeta, ou melhor, publiquei meu primeiro livro, em 1984, O outro e o outro, em parceria com Eucanaã Ferraz. De 1981 a 1987, minha casa virou uma espécie de local de visita de alguns artistas como Sérgio Fonseca que, ainda em 1977, apresentou-me a poesia de Carlos Drummond de Andrade e de Manuel Bandeira. Eu, Silvio Monteiro, Wanderley Marins, Laís Amaral, Roberto Rocha, Luís Henrique (o Gordinho) entre outros, ouvíamos uma quantidade incontável de vinis e líamos textos quase que o tempo todo. Todas essas leituras iam de livros consagrados de várias nacionalidades à poesia marginal dos anos 70. No prefácio assinado por Ricardo Vieira Lima, da coletânea Roteiro da Poesia Brasileira, Anos 80, onde foram incluídos três poemas meus, encontramos: “Enquanto isso, os novos poetas do período trabalhavam em silêncio. O binômio “arte/vida” não era mais suficiente para justificar toda uma produção cultural.” A poesia concreta e a marginal tinham ficado para trás. Lembro que discutíamos a nossa poética como sendo uma amálgama de movimentos anteriores. Bebíamos os modernistas, os concretos, os marginais estabelecendo a perspectiva de um ofício menos romântico, onde só a inspiração desse conta do recado, agora era momento de fazer com que as palavras se encontrassem pela primeira vez e, para isso, era preciso muita labuta, muito exercício e, consequentemente, uma maior preocupação com a forma.


CRIATIVOS! – Como tudo começou para o poeta Victor Loureiro?

VICTOR LOUREIRO - A poesia começou a habitar meus dias de maneira mais clara na adolescência, quando participei de jograis, leituras e concursos de poemas, na Baixada Fluminense. Lembro que meu primeiro poema - se é que posso considerar aquelas tentativas de versos como poema - tinha como título Sonho Eterno, de tom meio irônico, invertendo de maneira muito rudimentar a perspectiva romântica dos finais felizes. Depois disso, a necessidade de bulir com palavras passou a ser uma espécie de fascínio e encantamento.


CRIATIVOS!  – A poesia pode salvar o mundo?

VICTOR LOUREIRO - Sim e não. Tenho a impressão de que qualquer forma de arte serve para sensibilizar e reumanizar a sociedade, embrutecida por um consumo desenfreado, baseado numa lógica linear de produção, como se os recursos naturais fossem infinitos, inesgotáveis. Cezar Ray, poeta e ator cultural, se referiu ao meu livro Perímetro Humano como sendo um livro “verde”, mas não em oposição a maduro; verde porque traz um conteúdo de denúncia sobre o desmatamento centenário de um dos maiores biomas brasileiros, a Mata Atlântica. Essa aproximação entre áreas do conhecimento humano muito distanciadas pela lógica disciplinar da nossa educação foi sempre uma preocupação que aparecia e aparece em meus textos. Essa questão deve-se, em grande parte, à minha formação enquanto biólogo. Ou seja, poesia e biologia cabem no mesmo caderno. 


CRIATIVOS!  – Fale o que você tem feito como poeta e como pandeirista. 

VICTOR LOUREIRO - O poeta está no modo anônimo, treinando o isolamento, testando sempre a munheca, mas jogando um graveto de vez em quando na fogueira para não deixar a caverna fria. Quanto ao pandeirista, esse está no meio da pista tentando catar os sons que meu pai via, com o olhar fixo no ar, parado, ouvindo os grandes sambas em frente ao rádio. Não foi à toa que meu livro mais recente foi batizado com o nome de O homem que via a música.


CRIATIVOS!  – Ainda há espaço para a poesia nesse mundo barulhento e apressado?

VICTOR LOUREIRO - Há, na minha opinião, uma investida à negação a esse modo tik-tok, a essa resposta instantânea a tudo. Acho que o mundo nunca mais será o mesmo quanto à sua expectativa temporal. O tempo é outro, porque o mundo é outro. No entanto, a poesia parece-me a forma mais poderosa para utilizarmos como tempero desse dado “apressado” contemporâneo. Ela é uma das expressões humanas que contribui para frear algo que não se pode instaurar numa sociedade: a superficialidade perante os mistérios da vida, sua imprevisibilidade e sua complexidade extraordinária. Quando estamos diante dessa grandeza, não cabem inteligências artificiais, pois, estas não herdaram do mundo cibernético o dom da perplexidade diante do imponderado, já que tais inteligências não passam de uma ilusão binária e cartesiana da realidade.


CRIATIVOS!  – Quem é seu poeta maior, ou poetas maiores? E por que?

VICTOR LOUREIRO - Um grande amigo, Antônio Fraga, dizia que todos nós imitamos alguém na arte. O primeiro poeta que tentei imitar foi Manuel Bandeira. Ele foi, para mim, uma espécie de pai poético. Achava extraordinária aquela linguagem aparentemente despretensiosa de seus poemas, aquela quase notícia de jornal poética, às vezes, considerada, por ele mesmo, como textos circunstanciais, o que certamente era uma maneira elegante de não cair em autoelogios. Poemas epifânicos que temperavam a efusão lírica com ironia, como no romantismo alemão, aproximando poesia e filosofia, com um vocabulário franciscano e grandes poemas curtos. Confesso que essa estética bandeiriana me serve como base até hoje. Já Drummond, para mim, sempre foi o poeta maior, maior no sentido de escrever de tudo e sobre tudo. O poeta que resumiu a poética de toda uma geração. E claro, também foi importante para a minha formação no ofício do verso. Além deles, outros foram, ao longo desses anos, ajudando a construir a minha trajetória poética com suas assinaturas diversas, como João Cabral de Melo Neto, Paulo Leminski, Cecília Meireles, Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade entre outros.    


 

Música, Educação, Biologia, Economia Criativa, Literatura e Tecnologia: Uma Sinfonia de Desenvolvimento e Oportunidades



A interseção entre música, educação, biologia, economia criativa, literatura e tecnologia é como uma partitura complexa, com cada nota contribuindo para uma melodia harmoniosa de crescimento, pertencimento e prosperidade. Neste artigo, exploraremos como esses elementos se entrelaçam e como a Cedro Rosa Digital e a plataforma CRIATIVOS! estão promovendo esses segmentos.


Música e Educação: Uma Harmonia Transformadora



A música é mais do que uma forma de entretenimento; ela tem o poder de moldar mentes e corações. Pesquisadores destacam que a música no processo de ensino-aprendizagem oferece benefícios significativos. Ela estimula o desenvolvimento cognitivo, promove o equilíbrio emocional e melhora a concentração1. Crianças envolvidas com música tendem a ter melhor desempenho escolar e maior aptidão acadêmica. Platão já afirmava que “a música é um instrumento educacional mais potente do que qualquer outro” – uma visão que permanece relevante até hoje.


Biologia e Música: O Ritmo da Vida


A relação entre música e biologia é fascinante. Estudos alemães mostram que pessoas envolvidas com análise musical têm uma área cerebral 25% maior. Além disso, aqueles que estudam notas musicais e ritmos obtêm notas significativamente melhores em matemática1. A música parece treinar o cérebro para formas relevantes de raciocínio, criando uma sinergia entre arte e ciência.


Economia Criativa e Música: Notas que Geram Renda



A Cedro Rosa Digital é uma plataforma brasileira que une criadores musicais e a indústria de mídia, entretenimento, games e tecnologia. Ela oferece licenciamento gratuito para músicas, permitindo que artistas independentes alcancem audiências globais.



Ela distribui músicas para as principais plataformas e garante direitos autorais aos artistas. Ao usar suas músicas, estamos apoiando a cadeia produtiva da música independente.


Literatura e Tecnologia: Palavras Digitais


A plataforma CRIATIVOS!  é um espaço onde criatividade e tecnologia se encontram. Ela registra e administra direitos autorais de músicas em todo o mundo, conectando criadores a oportunidades.

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