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Foto do escritorLeo Viana

VISITANTES



Queridos companheiros do planeta ZPRAVZ, 


Nossos cientistas têm estudado por algum tempo um planetinha azul distante. Os estudos revelaram coisas absolutamente estranhas relativas à espécie dominante nas áreas não submersas e quanto às próprias formas de vida que habitam todas as regiões da bolinha azul (mas também um pouco verde) que descobrimos meio por acaso.


Numa das expedições de coleta de pequenos asteróides, corriqueiras para obter material de decoração e substrato para o cultivo de alimentos, foi encontrado um pedaço de algoque foi identificado pelos cérebros eletrônicos de ZPRAVZ como alguma liga de ferro com um elemento desconhecido por aqui, conhecido como alumínio e cuja origem remetia à Terra. 


A informação foi sistematizada pelo novo processo de captação de sinal, capaz de obter informações disponíveis em todas as galáxias conhecidas. E o comando científico de ZPRAVZ, todos sabem, concentrou muitos esforços para o desenvolvimento dessa ferramenta. Nosso conhecimento estava se esgotando, colocando em risco a manutenção das coisas, do planeta, da espécie.


O pedaço do que os terráqueos chamam “metal”, de acordo o mecanismo de busca, trazia a inscrição “made in China” prontamente traduzida por nosso equipamento de leitura intergaláctico. 


O cérebro eletrônico informou que China era uma parte das terras emersas do planeta que abrigava um povo antigo, de tradições complexas, que tinha se convertido, em um tempo relativamente curto para os padrões da Terra, no maior produtor de tecnologia. 


A Terra, já há algum tempo, tornou-se objeto de interesse em ZPRAVZ. O sistema anterior de captação de informações do espaço já tinha conseguido alguns dados – só  depois identificados como provenientes da Terra - que causaram estranheza entre os cientistas locais. A vida na terra, por exemplo, ocorre em ciclos. Os seres vivos nascem e morrem, cada qual obedecendo a um tempo “t” qualquer de duração, que depende de fatores diversos, desde a disponibilidade de alimento até o risco de acidentes absolutamente imprevisíveis, além do risco de predação por outras espécies ou de malesdesconhecidos, completamente fora de propósito, conhecidos genericamente como “doenças”. 


Tais elementos compõem uma cadeia grande e complexa de vidas de variadas dimensões e durações, dispostas por todo o planetinha, em formatos, composições, habitats, cores e compoortamentos de diversidade impressionante.


Em ZPRAVZ, diferentemente, todos existem desde sempre, são iguais e essa concepção de “duração da vida”, é  de conhecimento público, não existe. 


Os sistemas de medição da Terra são todos muito estranhos. Além da variação de medidas para distância, peso e área (usam diversos métodos, a depender da região), eles têm ainda medidas de tempo absolutamente incompreensíveis, se comparadas ao sistema de ZPRAVZ.


Levam em consideração a rotação do próprio planeta em torno de uma estrela pequena e insignificante que chamam de Sol. Assim, um tempo que pra eles é gigantesco, aqui em ZPRAVZ é um átimo, um instante. Contam em “bilhões de anos” sua própria história planetária. Todos os habitantes de ZPRAVZ poderiam ter assistido ao nascimento do tal planeta, caso soubessem que aquilo iria acontecer.


Ainda que o processo civilizatório, capitaneado por uma espécie bem estranha e também diversa, uma das únicas presentes em toda parte do planeta, seja bastante primitivo, baseado no esgotamento dos recursos e na permanente tentativa de prolongamento da própria vida, inclusive em detrimento de outras, o mais incrivel parece ser essa “diversidade biológica”, como eles mesmos chamam. 


Assim, convocamos uma dúzia de notáveis de ZPRAVZ, através do Supremo Conselho ,para compor um comitê dedicado aos estudos da Terra, o que culminará com uma visita, a ser agendada quando já houver suficiente produção científica local sobre o lar dos “humanos”, como os habitantes dominantes do planeta se autodenominam.”

 

Após o comunicado do Supremo Mandatário, foram ultimadas as providências. 

A produção científica em ZPRAVZ conta com todo o suporte dos governantes e tudofluiu rápida e eficientemente. Em instantes havia dados sistematizados em quantidade suficiente pra o envio de expedições exploratórias. Era preciso ser discreto. Uma das coisas descobertas sobre os humanos era o seu caráter assustadiço. Por qualquer coisaeles se amedrontam e fogem ou atacam. Algumas partes do “mundo”, como eles também chamam a Terra, concentram armamentos capazes mesmo de destruir seu próprio planeta, o que não faz qualquer sentido em ZPRAVZ.


Apesar do formato quase perfeitamente esférico do planeta, há uma divisão arbitrária“leste-oeste”, o que também contraria qualquer lógica fisica, mas que deve ser levada em conta no desembarque, sob pena de fracasso iminente. O Sul do planeta, apesar da população sabidamente desconfiada, é considerado menos hostil aos visitantes. 


Os veículos e os tripulantes seriam perfeitamente disfarçados em formatos familiares aos humanos e às regiões de contato.  Isso já era uma praxe na exploração espacial de ZPRAVZ. O mínimo de estresse de contato. Além da lógica pacífica, o objetivo era apenas aprofundar os conhecimentos que o cérebro eletrônico já havia fornecido.


Desceram no Brasil. As coordenadas indicaram um ponto de contato favorável no Rio de Janeiro. A imprecisa medição de tempo na conversão para os padrões terrestres fez com que chegassem em fevereiro. A temperatura beirava os 40 graus. 


A vida em ZPRAVZ era sustentável e eterna no equivalente a uns 15°C daqui. Vestiam-se sem extravagância, mas a roupa  de mangas compridas, os colarinhos fechados e a gravata tornavam a vida insuportável e o calor ameaçava fundir a substância de que eram feitos os visitantes. Interagiram rapidamente com pessoas vestidas estranhamente. Uma consulta aos terminais eletrônicos de informação, camuflados em relógios de pulso,esclareceu que era Carnaval. Um tipo de festa que os cariocas (habitantes do Rio de Janeiro) levam muito a sério e se organizam em grandes grupos, mesmo sob calor intenso, para celebrar. 


Num pequeno lapso de tempo reorganizaram a programação e foram levados para o Alasca, no extremo norte, em busca de conforto térmico. Foram informados do risco de ataque por parte dos Estados Unidos, trecho mais bem armado das terras emersas do globo, mas isso não ocorreu. A região parecia  bem desenvolvida, mas além do ataque por um urso enorme, que retirou o braço de um dos quatro tripulantes do veículo (e morreu na hora, o urso, envenenado pela composição do nativo de ZPRAVZ), havia muito gelo, temperaturas insuportavelmente baixas e gente estranha.


Gostaram dos esquimós, mas não dos brancos do lugar, hostis e armados. 

Voltaram ao Brasil, mas uma imprecisão no cálculo os levou a uma fazenda de gado no interior de Goiás. Trezentas mil cabeças de bovinos espremidos num sistema de confinamento fez com que pensassem que o gado tivesse cometido algum crime. O terminal portátil informou que se destinavam à alimentação dos humanos. Não conseguiram estabelecer comunicação com os bois e voltaram à nave, não sem antes serem atingidos por meia dúzia de tiros, visto que foram confundidos com ladrões de gado ou membros de algum movimento de ocupação de terras.


Nova viagem, ainda no Brasil e pararam em meio a uma grande manifestação nas ruas. Um homem esbravejava contra o governo, seguido por uma multidão que o aclamava, emocionada. Permaneceram ali por algum tempo, na busca de tentar compreender o que ocorria. O sistema de tradução vinha apresentando funcionamento irregular. Mas a certa altura, foi possível entender que as falas eram todas em defesa própria, visto que o tal líder tinha contra si diversas acusações, provadas (o terminal ainda funcionava na língua de ZPRAVZ), de corrupção e má gestão, tendo sido tornado inelegível. O terminalinformou ainda que o mesmo líder era contrário a fundamentos básicos da ciência e era mesmo seguidor de um outro que negava a esfericidade do planeta. 


Apesar da vontade de conhecer a China e outros pontos do planetinha azul, parecia hora de voltar. Além da curta duração do ciclo de vida dos humanos, sua organização é tão precária que permite que indivíduos como esse, que em ZPRAVZ seria isolado do convivio ou enviado em missões exploratórias solitárias no espaço, tenha ainda seguidores fiéis. E as notícias são terríveis. Parece que há muitos outros espalhados pela Terra. 


A próxima expedição a este planeta será melhor planejada, de modo a descobrir pontos possíveis de cooperação. Uma prioridade é aumentar a confiabilidade do sistema de tradução, inclusive quanto à autonomia da bateria. E roupas mais confortáveis pro Rio de Janeiro, incluindo fantasias de carnaval.


Pela contagem do tempo, provavelmente haverá a substituição de toda a população do mundo. Tomara que a próxima seja menos estranha.


De qualquer forma, parece que o vizinho lá que veio sozinho a Varginha, pequena cidade no interior do Brasil, foi mais bem recebido e recebe homenagens até hoje. 

Vamos colocar Varginha no roteiro.


Isso é prioritário!!

 

Rio de Janeiro, agosto de 2024.


 

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