Zeca Baleiro pede uma atitude em outubro
Um cara que admiro nessa geração, nem tão recente, de estrelas da nossa música, é o Zeca Baleiro. (Temos até um gato chamado Zeca Baleiro Dois. Felino cheio de personalidade). Confesso que não sou seguidor da sua carreira, tipo tiete. Nada disso. Ouvi suas canções de forma incidental. No rádio do carro de alguém, em reuniões na casa de amigos, por aí. Gostei. A sua Flor da Pele, é uma homenagem maravilhosa a Vapor Barato, do Wally Salomão. Um clássico que a Gal imortalizou. Os versos iniciais me servem de moldura em muitos momentos nesses tempos cruéis pelos quais estamos passando. Qualquer beijo de novela tem me levado às lágrimas.
Meu “esbarrão” com ele, se é que posso classificar dessa forma, foi em Brasília, numa Conferência de Cultura realizada em 2010. Bons tempos. Foi um encontro nacional, nos arejados tempos de Gil e de Juca Ferreira no Ministério da Cultura. Eu era um dos quatro delegados da região centro sul do Estado do Rio no evento. Zeca integrava a mesa numa das várias salas de discussões com temas variados. Além de cantor, músico e compositor, ele também é cronista. Numa de suas falas, disse que suas músicas não tocavam mais em uma determinada emissora do Maranhão, depois que criticou Sarney ou, a família Sarney. Minha admiração se consolidou ao constatar estar diante de um artista que tem opinião e que externa sua opinião, principalmente contra um poder que costuma usar de força desproporcional para se impor. Chefes políticos que acumulam nas mãos, feixes de veículos de comunicação, como em nenhum lugar do mundo dito civilizado. Ferramentas de apoio e manutenção do poder.
Eu fui jornalista por algumas décadas e servi a patrões pequenos, médios e grandes. Em essência não há diferença entre eles. Só de escala. O pequeno patrão a gente vê. O médio, vê-se de relance e o grande você sabe que existe e não vê, mas sente seus tentáculos perpassando pela rede hierárquica que chega à redação. O cerceamento de sua arte e de sua opinião, naquele Maranhão pré-Flávio Dino, que mais parecia uma fazendona da família Sarney, junto com alguns outros grandes senhores menos conhecidos, é apenas a reprodução do que vemos ocorrer nessa grande fazenda chamada Brasil. Meia dúzia de famílias mantém o controle sobre o que se informa e assim, aliadas ao poder econômico nacional, o verdadeiro poder, associado a interesses econômicos externos, vão moldando passos e gostos de nossa gente. Sentam-se à mesa dos grandes donos do capital para decidir nosso futuro.
Acumularam grandes fortunas, até em concessões públicas e acobertaram grandes pilhagens. Nenhum deles foi fundo na investigação de atrocidades como a do ministro da economia que tem uns míseros 10 milhões de dólares depositados num paraíso fiscal. Minimizam os crimes cometidos quase que diariamente pelo atual inquilino do Palácio do Planalto. Essa mesma imprensa, que produziu horas de ignominias em telejornais demonizando Lula e o PT, com interpretações superlativas e muitas vezes, distorcidas da realidade dos fatos. Os mesmos que em editorial afirmaram ser uma escolha difícil, no segundo turno, entre Haddad e o que hoje está aí. Eles são do mesmo lado. É feia a coisa, caro Zeca.
Zeca Baleiro esteve em Volta Redonda na sexta-feira da semana passada, dia 15, incendiando a plateia com seu repertório musical e sua postura. Era o início da linha de shows que marcava a comemoração dos 68 anos do mais importante município do Sul Fluminense. Município criado à sombra da Companhia Siderúrgica Nacional, enorme ação de Getúlio na trilha da soberania nacional, e que tem tanta história na vida dos trabalhadores. Algumas sangrentas como todos sabemos. Hoje a CSN pertence à iniciativa privada e segue provocando horrores ao meio ambiente local.
Resende, onde moro, fará 221 anos no dia 29 de setembro e na linha de shows da festa de comemoração, a estrela maior deverá ser Wesley Safadão. Gosto é gosto. Respeito. Embora entenda que as pessoas também são vítimas dos donos do poder e de seus interesses econômicos interferindo em gostos e comportamento, inclusive. Me veio à lembrança uma tacada do mestre Suassuna ao comentar um crítico musical de um jornalão paulista que classificou Ximbinha, da banda Calypso, de gênio. Diz Suassuna: “O que vamos dizer de Beethoven?”
No show do Zeca, lá pelas tantas, a multidão não se conteve e entoou o inevitável hino-jingle: “Olê, Olê, Olê, Olá, Lulá, Lulá!”. Zeca Baleiro pontuou o momento dizendo: “Tudo que podia ser dito, vocês já disseram. Mas eu quero completar com uma coisinha. Eu não acredito em nenhum profeta político, mas estamos diante de uma situação incontornável. Essa boçalidade que assumiu o poder, tem que ser parada. Acontecem coisas grotescas no país estimuladas por essa gente estranha que está no governo. Então é preciso que a gente tome uma atitude e, é agora, em outubro. Não temos outra chance”.
É isso. Você não precisa gostar do PT. Mas não podemos mais aceitar que o país seja transformado nesse ‘não sei o quê’, com idiotas usando de violência e nos transformando num país das maravilhas às avessas. Um enorme terreno baldio de moral e ética. Onde o ódio ao outro gera atos como invadir uma festa e matar o aniversariante, assassinar defensores do meio ambiente, odiar pobres, pretos e homossexuais. E com gente morrendo de susto, bala, vício e fome.
“Ando tão à flor da pele Qualquer beijo de novela me faz chorar Ando tão à flor da pele Que teu olhar flor da janela me faz morrer
Ando tão à flor da pele Que o meu desejo se confunde Com a vontade de não ser Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final” (A Flor da Pele – Zeca Baleiro)
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