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“ÁGUAS DO RIO” AUMENTA O CAOS URBANO FLUMINENSE



Aercio Barbosa de Oliveira[1]


Podemos afirmar sem pestanejar que a metrópole fluminense é o berço da imprevisibilidade. Ou se quisermos, aproveitando uma passagem literária do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: “viver é perigoso”, e eu completaria: sobretudo se você vive no Rio de Janeiro, é negro ou negra, ganha até dois salários mínimos ou tem trabalho precário e não vive em áreas nobres da cidade.  Vejamos se não!


Alguém pode sair de casa e não voltar mais, pois pode levar um tiro de um policial, um miliciano, de alguém do varejo de drogas ilícitas ou num simples assalto. Pode ser atropelado por uma bicicleta motorizada que passa indevidamente sobre a calçada, ou, pela mesma que trafega na contramão no momento em que você for atravessar a rua. Você pode chegar atrasado no trabalho, ou ir parar numa emergência de um hospital público porque a Avenida Brasil ou a Linha Vermelha foi interditada devido a alguma operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) ou por causa de um “arrastão”. O trem dos ramais de Saracuruna ou de Belford-Roxo pode não sair da plataforma da Central do Brasil em razão de conflito armado entre Comando Vermelho (CV) e a Polícia Militar (PM), ou entre as diferentes facções, por exemplo, Terceiro Comando Puro (TCP) e CV, ou entre grupos de milicianos etc., etc., etc. Casos assim, se tornaram parte da rotina da população fluminense. Aliás, conflito entre grupos milicianos está em alta na Zona Oeste, especialmente em alguns bairros de Jacarepaguá. E no meio de tudo isso, o seu filho, ao sair da escola, pode ser alvejado por um tiro de fuzil, disparado de um helicóptero da PM, principalmente se morar em alguma favela. Lembremos de uma ocorrência deste tipo no Complexo de Favelas da Maré, em maio de 2019.


Isso é um sintético contexto da vida de quem faz parte da base da pirâmide social da metrópole fluminense. E agora, para adicionar mais imprevisibilidade na vida das pessoas ou reforçar o dito de Guimarães Rosa, mencionado no início deste texto, num sentido mais restrito, temos os acidentes causados pela concessionária Águas do Rio. Esta, irresponsavelmente, opera o sistema de distribuição em bairros do Rio de Janeiro e cidades da Baixada Fluminense. Como se não bastasse as cobranças abusivas, a prática de colocar hidrômetro “como se não houvesse amanhã”, em qualquer circunstância para fazer caixa, passou a provocar graves acidentes com o rompimento de tubulações e adutoras. Inesperadamente, uma adutora de água pode se romper e destruir uma casa, matar pessoas. Como ocorreu em novembro de 2024, no bairro de Rocha Miranda, quando o rompimento de uma delas, sob a responsabilidade da Águas do Rio, matou Marilene Rodrigues Lima, de 79 anos, que dormia em sua casa.


E, novamente, numa absoluta demonstração de incompetência, para alimentar o nossos caos urbano de cada dia, no dia 9 de abril de 2025, bem cedo, quando as pessoas se deslocavam para o trabalho, a Águas do Rio, durante a manutenção de uma tubulação, derrubou um muro que protege os trilhos do metrô na altura da estação de Engenho da Rainha, da linha 2 (Pavuna-Botafogo). O acidente fechou 11 estações, deixando, durante 4 horas, 57 mil pessoas, segundo a concessionária do metrô, sem metrô.


Como se não bastasse o perigo das balas que saem das armas da Polícia Militar, das milícias, dos vendedores de drogas ilícitas; no trânsito cada vez mais individualizado, das enchentes, dos deslizamentos das encostas, das ondas de calor, agora temos para ampliar o repertório das causas do perigo, sempre distribuído desigualmente nos territórios, a concessionária Águas do Rio. E tudo, no quesito água, pode piorar: o governador deseja privatizar a Companhia Estadual de Água e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE), que é a responsável pela captação e tratamento da água, que até 2021 também, pela distribuição. Imaginem o tamanho do perigo com a CEDAE na mão de fundos de investimentos, de bancos e empresas privadas de saneamento?

 

  

[1] Coordenador da FASE RJ e integrante da coordenação do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (ONDAS).


 



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